Embora seja corrente como verbo de movimento usado intransitivamente – «ele já desceu» –, o verbo descer também se emprega como verbo transitivo, isto é, seguido de complemento direto (objeto direto), como acontece em «ele desceu o lixo».
De acordo com o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses*, o verbo descer é intransitivo quando significa «deslocar-se para baixo («diz ao teu irmão para descer»); « ter um desnível» (quando a rua começar a descer, vire à esquerda») e «diminuir» («a taxa de juro desceu ligeiramente»). Não obstante, pode também ser transitivo direto nas seguintes aceções:
1. deslocar para baixo – Ex.: «a mãe desce as persianas antes de adormecer o bebé»;
2. percorrer para baixo – Ex.: «o rafting permite descer o rio num barco de borracha»;
3. diminuir – Ex.: «o patrão não desceu o salário».
Ao empregar-se «descer o lixo», no sentido de «mandar/levar o lixo para baixo (por exemplo, por uma conduta)», percebe-se que o verbo descer se enquadra na aceção 1. Além disso, dado que uma frase como «ele desceu o lixo» é parafraseável por «ele fez com que lixo descesse», pode-se concluir que este verbo pertence à classe dos verbos causativos uma vez que exprime a ideia de que o sujeito da oração causa uma alteração no estado do paciente da ação ou processo («o lixo»).
Note-se ainda que o verbo em apreço pode também ter um complemento introduzido por preposição, sendo, portanto, transitivo indireto nas seguintes aceções: «deslocar-se para baixo» («o escanção desceu à cave para buscar uma garrafa); «ir para um nível inferior» («a equipa vai descer de divisão»); aviltar-se («ele não hesita em descer a ilegalidades para ganhar dinheiro»); ir para sul («estudantes do Porto desceram a Lisboa»); pormenorizar («a descrição desce a planos minuciosos»); e sair de um transporte («pagaram, desceram do táxi e ficaram à espera»). Pode ainda ser um verbo transitivo direto e indireto no sentido de deslocar para baixo («os estivadores desceram a carga dos porões do navio).
* J. Malaca Casteleiro, Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Lisboa, Texto Editora, 2007.