Não se usa «ficar dormida» – o que se emprega é «ficar dormindo»/«ficar a dormir».
Em português, pode empregar geralmente a estrutura em questão com verbos transitivos, como, por exemplo, inundar:
(1) «Com tanta chuva, as ruas vão ficar inundadas.»
No entanto, com o verbo dormir, como com qualquer verbo intransitivo, não é possível, porque não se usa «ficar dormido»1. A construção é «ficar dormindo» ou «ficar a dormir»:
(2) «Vou ficar dormindo/a dormir na palestra.»
Outra solução é usar adormecer:
(3) «Vou adormecer.»
Mesmo que os dicionários registem dormido com o significado de «adormecido», a verdade é que não se usa a expressão «ficar dormido/dormida» nem «completamente dormido/dormida». Observe-se, no entanto, o facto curioso de ser possível usar dormido como adjetivo na expressão «uma noite bem/mal dormida», em referência a uma noite em que se dormiu bem ou mal. Mas, observe-se também, mesmo neste caso, dormido não qualifica a pessoa que dorme, mas, sim, o período de sono.
1 Nem sempre é exatamente assim, porque almoçar ou jantar, suscetíveis de serem usados como intransitivos, permitem o uso do particípio passado em referência ao agente da ação: «já estou almoçado/jantado». Trata-se, apesar de tudo, de um emprego só possível coloquialmente (cf. Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pág. 1489, nota 170).