Comecemos por repetir, numerando, os exemplos que apresenta:
1. «Fazer o bem é importante.»
2. «Osso duro de roer.»
3. «Hora de chamar a polícia.»
4. «Levando-se em conta a crise, bom seria aumentar a poupança.»
5. «A obra desses poetas, considerando-se o pouco que viveram, é vastíssima.»
6. «Pensando-se em casos como o dele, não pode haver dúvidas quanto ao perigo de fumar.»
7. «Vivendo-se, daí vem a paciência.»
Salvaguardadas opções de estilo, ou mesmo de maior ou menor formalidade, em todas as frases é possível a presença do se, ainda que não propriamente em posição enclítica, ou seja, depois do verbo. Exemplifiquemos com 1, repetido como 8:
8. «É importante fazer-se o bem.»
Segundo a minha interpretação, o se, em 8, como em 9 e 10 abaixo, tanto pode ser lido como apassivante (é importante o bem ser feito/que o bem seja feito), ou como indeterminado (é importante alguém fazer o bem). No entanto, porque o verbo é transitivo, muitas pessoas considerá-lo-iam apenas como apassivante. No caso das frases 2 e 3, a presença da preposição exigiria que o pronome fosse colocado em próclise, ou seja, antes do verbo:
9. «Osso duro de se roer.»
10. «Hora de se chamar a polícia.»
Voltando à presença do se, note-se que os três exemplos que apresenta, e que vão numerados de 1 a 3, são expressões muito comuns que tendem a reduzir-se à forma mínima, um pouco como acontece com os provérbios. Talvez seja, sobretudo, esse facto que faz que o se possa não ser expresso. Por outro lado, o facto de não terem o pronome faz que sejam mais abstractas e abrangentes.
As frases 4 a 7, em que o verbo surge no gerúndio, estão igualmente bem formadas com o pronome e, se este não estivesse expresso, ganhariam, igualmente, uma maior abstracção.