João Malaca Casteleiro, Américo Meira e José Pascoal (Nível limiar: para o ensino, aprendizagem do português como língua segunda, Conseil de l´Europe, Strasbourg, Division des publications et des documents, 1988) referem que as interrogativas totais (tipo de interrogativa que «apresenta em geral uma estrutura semelhante à das frases declarativas, distinguindo-se, na oralidade, por uma entoação ascendente na parte final e, na escrita, pelo ponto de interrogação» (p. 409) «podem ser realizadas com forte entoação dubitativa. Neste caso [...] introduz-se a forma verbal será com o subordinador que: será que o Pedro vai ao Porto no sábado? Será que o comboio chega à hora?». Notam ainda os referidos autores que «a posposição do sujeito relativamente ao verbo, nas interrogativas totais, ocorre também em frases fortemente dubitativas, em que a forma verbal se encontra no futuro, simples ou composto: será a Ana capaz de vencer essas dificuldades? Terá o Pedro chegado a horas?» (p. 410).
Deste modo, e respondendo diretamente à questão apresentada pela consulente, não, não é possível estabelecer a concordância, no contexto enunciado, entre o sujeito e a forma verbal será, pois a construção fixa «será que» é usada, na língua portuguesa, como referem os investigadores citados, com o único objetivo de acentuar o efeito de dúvida que o enunciador pretende incutir na pergunta feita. A língua francesa, por exemplo, dispõe da partícula «est-ce que», que produz um resultado dubitativo muito semelhante ao do nosso «será que». Além do mais, repare-se que, no exemplo transcrito pela consulente, o acordo é estabelecido entre o sujeito tu e o verbo ir («vais»), sendo que o constituinte «será que» funciona como uma espécie de elemento exterior, introduzido nesta frase (ou em qualquer outro enunciado interrogativo) como forma corrente de exponenciar uma clara intenção dubitativa.