DÚVIDAS

O uso de permissividade e de permissão

Qual é a forma correcta?

«Não era o que ela conjecturava, a ideia que fazia das suas quedas, dos seus vícios, da sua vida que o irritava, mas a permissividade que se autorizava de o querer admoestar.»

ou

«Não era o que ela conjecturava, a ideia que fazia das suas quedas, dos seus vícios, da sua vida que o irritava, mas a permissividade que se autorizava em o querer admoestar.»

Com os meus agradecimentos.

Resposta

Revela-se estranha a ocorrência do substantivo permissividade com uma oração completiva introduzida por preposição, porque esta palavra, ao contrário de permissão, não tem correspondência direta com o verbo permitir:

1 – Saiu do quartel, com permissão de/para voltar depois da meia-noite.

2 – Saiu do quartel, com permissividade de/para [?] voltar depois da meia-noite.

Comparando 1 com 2, verifica-se que só 1 está em estreita correspondência com permitir: «Saiu do quartel, tendo-lhe sido permitido voltar depois da meia-noite.» Em 2, aparece permissividade, palavra derivada de permissivo, adjetivo que, embora evidencie óbvia afinidade morfológica e semântica com permitir e permissão, se aproxima também do significado e da sintaxe do adjetivo tolerante, mas juntando a este uma apreciação negativa (cf. uma das aceções de permissivo no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: «que admite facilmente, que tolera certos comportamentos, certas práticas que outros reprovariam ou não permitiriam»). Neste contexto, convém assinalar que, ocorrendo permissivo com complementos, são geralmente a preposição com ou a sequência de preposições para com que os introduzem («permissivo com/para com os abusadores») e serão estas também as palavras a que se associará permissividade se houver que usar preposições («permissividade com/para com os abusadores»).

Tendo, portanto, em conta a aceitabilidade discutível do exemplo 2, tornam-se também discutíveis as regências associadas a permissividade nas frases apresentadas pela pergunta. Em alternativa, sugerem-se outras formulações para a frase, de modo a realçar o significado do substantivo em causa (geralmente, o mesmo que «tolerância com comportamentos indesejáveis»; cf. Dicionário Houaiss):

1 – Não era o que ela conjecturava, a ideia que fazia das suas quedas, dos seus vícios, da sua vida que o irritava, mas a permissividade com que se autorizava a querer admoestá-lo.

Ou ainda:

2 – Não era o que ela conjecturava, a ideia que fazia das suas quedas, dos seus vícios, da sua vida que o irritava, mas a permissividade com que se sentia autorizada a querer admoestá-lo.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa