No Acordo Ortográfico de 1990 (AO) não é explicíta uma situação como a do caso apresentado. No entanto, podemos consultar a alinea i) do ponto 2 da base XIX do AO – «opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente e hierarquicamente, em início de versos, em categrização de logradouros públicos [...]» –, aceitando que o uso de maíuscula é permitido quando usamos substantivos do foro filosófico/espiritual em posição de reverência.
Para melhor esclarecimento, interessa também consultar o que refere o Acordo Ortográfico de 1945 (vigente até 2009) na base XLII: «Escrevem-se com maiúscula inicial os substantivos que designam altos conceitos políticos, nacionais ou religiosos, quando se empregam sinteticamente, isto é, dispensa quaisquer qualificativo». Ora, também nesta base não é claro o uso de maiúscula em substantivos como amor. Contudo, o Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, p. 334), de Rebelo Gonçalves, previa o uso da maiúscula inicial «nas palavras de sentido espiritual ou moral às quais se queira [...] dar realce», dando como exemplos «a Arte», a «a Beleza», «a Ciência», «a Cultura», «a Justiça», entre outros. É, pois, possível assumir que amor pode ser utilizado num sentido espiritual ou filosófico e, assim, numa perspetiva muito ampla, próximo do religioso, o que também permitiria o uso da maiúscula.
Resumidamente, embora a informação que nos dá o AO não seja explícita, numa leitura mais alargada do que é aí referido e atendendo ao que se prescrevia antes, pode-se aceitar que amor seja grafado com inicial maiúscula sempre que se queira salientar a dimensão espiritual ou moral do conceito associado.