De facto, o abaixo-assinado em apreço faz crer que hoje e hilariante se vão escrever sem o grafema <h>, como acontece com úmido, grafia brasileira equivalente à portuguesa húmido. Não se trata nada disso: fora dos dígrafos <ch>, <lh> e <nh>, o <h> usa-se em português por razões etimológicas. Hoje fica com <h> inicial, porque o deve à palavra latina donde evoluiu, hodie; do mesmo modo, hilariante manterá o <h>, porque o seu radical tem origem no latim hilărus, a, um ou hilăris, e, «alegre, contente, risonho».
É por divergências quanto à etimologia da palavra húmido/úmido que se dá a variação gráfica: no Brasil defende-se, com bons argumentos, que o étimo mais correcto é umidus, a, um, «húmido»; em Portugal, escreve-se húmido, seguindo a tradição de outras línguas, que adoptam uma variante latina com <h> (humĭdus, a, um) — são exemplos o inglês humid, o francês humide e o castelhano húmedo. Assim, alternância húmido/úmido não se deve a divergências quanto ao princípio que preside ao emprego de <h>, mas, sim, a pontos de vista diferentes sobre a origem de uma palavra em particular.
Pode-se objectar que erva em tempos perdeu o <h>, e que proximamente pode acontecer o mesmo a todas as palavras que o conservam. Mas é preciso sublinhar que há vocábulos que, apesar de terem étimos com <h>, se escrevem sem ele nas duas ortografias até agora vigentes e que hão-de continuar assim no novo acordo — erva, para dar um exemplo (ver Base II do novo acordo). Neste caso, os filólogos e dicionaristas brasileiros e portugueses têm concordado que a palavra tinha uma longa tradição gráfica em que se dispensava tal grafema. Também não há diferenças quanto à supressão de <h> no meio de palavras derivadas e aglutinadas (exceptuam-se os casos de hífen): desumano, inábil, reaver.
Por último, é de notar que o novo acordo ortográfico é omisso relativamente à alternância húmido/úmido, pelo que não se pode dizer, por enquanto, que em Portugal se vai deixar o critério usado até aqui, que é o de escrever a palavra com <h>. Mas que fique clara uma coisa: que o adjectivo perca o <h> inicial é uma possibilidade; que o mesmo ocorra com hoje e hilariante é uma generalização abusiva, porque não é isso que se prevê.