Na perspetiva do português europeu, as duas primeiras frases apresentadas parecem anómalas, porque, nas orações introduzidas por quando, seriam de esperar duas situações:
i) Se a oração temporal tem o verbo no presente do indicativo, então a subordinante apresenta o verbo no mesmo tempo e modo, e a frase é globalmente um enunciado genérico ou exprime habitualidade, como ilustram os exemplos seguintes:
(1) «Quando estamos em férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, são traduzidas em simultâneo e são escritas no dispositivo na sua língua materna.»
(2) «Quando compramos numa loja de desportos online, escolhemos o artigo que desejamos.»
ii) Se a oração temporal tiver o verbo no futuro do conjuntivo, então o verbo da subordinante está ou no presente do indicativo ou no futuro simples do indicativo (será possível a perífrase de ir + infinitivo), como exemplificado em (3) e (4):
(3) «Quando estivermos em férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, são/serão traduzidas em simultâneo e são/serão escritas no dispositivo na sua língua materna.»
(4)«Quando comprarmos numa loja de desportos online, escolhemos/escolheremos o artigo que desejamos.»
Quanto à oração temporal introduzida por enquanto, é totalmente aceitável em PE, com valor de habitualidade:
(5) «Enquanto estamos numa reunião de trabalho, a ata está a ser elaborada.»
A frase (5) é também válida como enunciado que representa um processo que decorre no momento da enunciação.
É igualmente possível substituir o presente do indicativo que figura na oração subordinada em (5) pelo futuro do conjuntivo, mas a forma do verbo aparecerá no presente do indicativo ou no futuro deste modo na subordinante:
(6) «Enquanto estivermos numa reunião de trabalho, a ata é/será ser elaborada.»
Na subordinante em (6), não parece aceitável a perífrase de «estar a» + infinitivo, pelo menos, não, se o auxiliar ocorrer no presente do indicativo:
(7) ?«Enquanto estivermos numa reunião, a ata está a ser elaborada.»
Não temos disponibilidade para levar mais longe a análise.
1 Nos casos em que se pretende localizar uma situação no futuro, segundo Luís Filipe Cunha, em «Valores temporais das orações com quando», os tempos requeridos estão, normalmente, no conjuntivo nas orações introduzidas por quando e no indicativo nas orações principais, como em (i).
(i) «Quando ganhar o Euromilhões, vou comprar uma mansão.»
No estudo realizado por Cristiany da Silva e Heloísa Salles, designado "Orações Temporais Iniciadas por quando: uma comparação entre o português e o espanhol", verificou-se que as possibilidades de variação entre o modo conjuntivo e o modo indicativo são um ponto comum nas línguas românicas e que ocorrem, não só em orações temporais, mas também em orações concessivas e completivas. Para além disso, observa a tendência, em português, para quando nas orações introduzidas por quando o verbo ocorre o futuro do conjuntivo, na oração principal os verbos surgirem ou no futuro do indicativo ou no presente do indicativo, como em (ii).
(ii) a. «Quando cresceres, darás mais valor a tudo.» (futuro do indicativo)
b. «Quando tiveres a minha idade, vais ver.»
Em (iib), ocorre a construção de ir + infinitivo, que, apesar do valor de futuridade, exibe o auxiliar ir no presente do indicativo.
2 «Enquanto estamos numa reunião de trabalho, a ata está a ser elaborada», a interpretação possível é que a situação descrita pela subordinante ocorre ou mesmo tempo que a situação da subordinada. Repare-se que o uso do presente do indicativo neste caso permite uma interpretação de habitualidade. Segundo Fátima Oliveira, em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), com o presente do indicativo é possível «uma leitura aspetual de habitualidade, em que se descreve uma repetição regular e habitual de situações simples.» (pág. 514).