Formalmente, a frase apresentada, aqui transcrita em (1), inclui uma relação de coordenação copulativa, uma vez que estamos em presença de uma oração introduzida pela conjunção copulativa e, que assume a função de a conectar à estrutura anterior:
(1) «É só dizer essas palavras, e posso dormir sossegado com relação à fidelidade.»1
O valor de base atribuído pela conjunção e à conexão é o de adição, como se observa em (2):
(2) «O Rui leu um livro e a Ana escreve um artigo.»
Não obstante, a coordenação com e pode assumir outros valores2, como por exemplo:
(i) valor adversativo:
(3) «Estou exausta e (=mas) não posso descansar.»
(ii) valor conclusivo:
(4) «Consegui entregar o trabalho a tempo e (=logo/por isso) mereço um belo passeio.»
(iii) valor de sequencialidade temporal
(5) «Acordei e (depois) levantei-me.»
(iv) valor condicional:
(6) «Termina o trabalho e ficas de férias.» (=Se terminares)3
Ora, é exatamente este último valor que se encontra na frase (1), o que permite afirmar que ela é equivalente a uma construção condicional.
Assim, em termos formais estamos perante uma construção copulativa; em termos semânticos, estamos perante uma construção com valor condicional.
Disponha sempre!
1. A frase apresenta integra o conto “No Departamento dos Correios”, de A. Tchékov, Um negócio fracassado e outros contos de humor.
2. Para mais informações, cf. Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1786-1794. Consultem-se também as perguntas relacionadas.
3. N.E. [07/03/2022] – Note-se que, neste caso, o valor condicional da coordenação não é marcado pela conjunção e, mas, sim, pelo primeiro membro da estrutura coordenada: «Termina o trabalho...» = «Se terminares o trabalho.»