O termo logótipo é relativamente recente. O completo Vocabulário da Academia das Ciências de Lisboa, de 1940, ainda não o registava.
O termo aparece, porém, já na 2.ª Actualização da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, com acento: logótipo e sem variante. Também aparece assim grafado no Dicionário de 2003 da Porto Editora e no Dicionário Universal, de 1999, da Texto Editores.
No entanto, José Pedro Machado no Grande Dicionário, projeto da Sociedade da Língua Portuguesa, de 1991, regista unicamente logotipo, paroxítona (grave), sem acento, provavelmente porque o autor sentiu que esta forma estava a impor-se definitivamente. O Grande Dicionário da Porto Editora, de 2004, aparece também com esta variante, mas remetendo para logótipo; e o mesmo procedimento é o do completo Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.
O curioso é que o Dicionário Houaiss, de 2001, inversamente, já apresenta logotipo como entrada base, para a qual é remetida logótipo com a indicação de ser preferível, mas menos usual.
Do ponto de vista etimológico, penso que efectivamente deveríamos adotar logótipo (do grego ‘logos’, «palavra», + ‘typos’, «tipo»), como, por exemplo, protótipo (do grego ‘protótypos’). É esta a recomendação da 4.ª versão, recente, do Prontuário da Texto Editores (embora registando que também existe a variante prototipo).
Alonguei-me neste relato para que se medite na forma como a língua vai evoluindo.
Em resumo, uma coisa é a pronúncia etimológica recomendada, outra o hábito liguístico com que determinado termo acaba por se fixar na língua. Logotipo passou a ser uma forma legitimada pelo uso, de tal forma, que Houaiss até já considera a forma correta quase como um anacronismo. Passou-se fenómeno semelhante com a forma correta termóstato, que já hoje os técnicos na generalidade pronunciam termostato em Portugal, e alguns ignoram mesmo a forma correta.
Vem, neste procedimento, grande mal à língua? No meu entender, não, dentro de certos limites.
No caso de logotipo, como diz e já tenho referido, há até uma tendência na índole da língua para pôr o acento tónico no elemento do conjunto mais característico: tipo; obtendo-se, assim, um significante que dá melhor ideia do significado.
Sublinho, porém, que uma coisa é a tolerância no desrespeito pela etimologia em casos semelhantes, outra é aceitar desvios contra todas as regras. Por exemplo, (e como é meu hábito referir) aceitando-se que a analogia é um fenómeno} natural na língua, podemos, contudo, admitir que se conjugue: `eu hei-de, tu *há-des, eles *há-dem´, ou que se conjugue: `que eu consiga, que tu consigas, que nós *consígamos´?
A regra que sigo e recomendo é procurar conhecer sempre bem a forma correcta e só usar essa em textos exigentes. Defende-se o precioso património da língua quando se respeita a história das palavras, como se respeita a história do país.
Se, porém, nos dirigimos a uma comunidade que já fixou outra forma, então é natural que a usemos, para que não nos considerem pretensiosos. Mas, mesmo assim, uma coisa é a fala, outra a escrita. Cito um exemplo que também me é habitual: para uma comunidade que já fixou biopsia pronunciada ¦bió¦, eu poderei pronunciar a palavra como proparoxítona (esdrúxula) aparente, mas nunca a escrevo com acento.
Finalmente, sublinho que a sua ilustre Academia Brasileira de Letras ainda regista sem variantes: fenótipo, genótipo e estereótipo.
Ao seu dispor,