A norma aceita as sequências de duas preposições (por exemplo, «para com», «por entre», «de entre»), mas tal não significa que essas expressões sejam todas classificadas como locuções prepositivas. Também não se pode dizer que existam regras; o mais que se deteta são tendências na associação de preposições.
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2002, p. 301/302), referindo-se à possibilidade de acúmulo de preposições, faz as seguintes observações:
«Não raro duas preposições se juntam para dar maior efeito expressivo às ideias, guardando cada uma seu sentido primitivo:
Andou por sobre o mar.
Estes acúmulos de preposições não constituem uma locução prepositiva porque valem por duas preposições distintas. Combinam-se com mais frequência as preposições: de, para e por com entre, sob e sobre.
"De uma vez olhou por entre duas portadas mal fechadas para o interior de outra sala..." [CBr. 1, 175].
"Os deputados oposicionistas conjuravam-no a não levantar mão de sobre os projetos depredadores" [CBr. 1]
OBSERVAÇÕES:
1.ª) Pode ocorrer depois de algumas preposições acidentais (exceto, salvo, tirante inclusive, etc. de sentido exceptivo ou inclusivo) outra preposição requerida pelo verbo, sendo que esta última preposição não é obrigatoriamente explicitada:
Gosto de todos daqui, exceto ela (ou dela).
Sem razão, alguns autores condenam, nestes casos, a explicitação da segunda preposição (dela, no exemplo acima):
Senhoreou-se de tudo, exceto dos dois sacos de parta [CBr apud MBa.3, 326] [...].»*
Note-se que «a locução prepositiva até a é a única formada por duas preposições simples: a preposição de base até, seguida da preposição de ligação a», conforme observa a Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 1505), que não inclui sequências como «por entre», «de entre», «para com» e «para depois» entre as locuções prepositivas, com a seguinte justificação:
«[Nestas sequências] as duas preposições mantêm o seu significado e uso básicos: trata-se de casos em que uma preposição toma como complemento outro sintagma preposicional independente [...]; p. e. [...], ele foi generoso [SP para [SP com [SN o Luís]]].»
* A sigla CBr refere-se ao escritor português Camilo Castelo Branco.