1. A análise que a consulente faz das frases está correta para b), mas não para a):
Vejamos, a estrutura profunda das frases é:
a) Já que os homens querem ouvir-me/ Já que os homens não me querem ouvir.
b) Já que os homens querem ouvi-lo/ Já que os homens não o querem ouvir.
Ambas as frases têm a mesma análise.
Querer é um verbo de controlo e não um verdadeiro verbo auxiliar. Assim, a oração infinitiva ouvir-me, em a) e ouvi-lo, em b) é selecionada pelo verbo querer. O verbo ouvir, nesta construção, é transitivo direto, seleciona um complemento direto ( -me, em a) e -lo , em b).
2. A frase Já me ouviram muitos disparates é uma frase simples, cujo verbo principal é ouvir. Nesta frase, o verbo ouvir é transitivo direto e indireto, seleciona um complemento direto (muitos disparates) e um complemento indireto (-me – a mim).
Veja-se outro exemplo:
Já ouvi muitos disparates à Ana.
Da pronominalização do complemento direto, resulta a frase: Já os ouvi à Ana.
Da pronominalização do complemento indireto, resulta a frase: Já lhe ouvi muitos disparates.
Assim, na 1.ª e na 2.ª frases, o -me e o -o desempenham a função sintática de complemento direto e na 3.ª frase, o -me é o complemento indireto.
A colocação do pronome pessoal átono em posição pré-verbal deve-se à presença do advérbio de negação em b) e ao advérbio já em c). A frase a) é uma frase de autor, cuja ordem direta seria Já que os homens não me querem ouvir, o que revela a mesma ordem de constituintes de b).