A questão central que aqui se coloca reside numa certa imprecisão associada ao termo "família" de palavras. Foi exactamente por isso que, na minha primeira resposta, antes da apresentação das diferentes palavras da família de hibernar, tive o cuidado de apresentar a definição deste termo.
Segundo o Dicionário de Termos Linguísticos, vol.. II, organizado por Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mira Mateus, ed. Cosmos, a definição de família de palavras está associada ao campo da morfologia e é a seguinte: «conjunto de palavras que partilham o mesmo radical.» Ora, segundo esta definição, Inverno e hibernar terão necessariamente de pertencer a famílias distintas: hibernar, que deriva da raiz hibern-, será da família de hibernação ou de hibernal; já Inverno, que terá como raiz invern-, será da família de invernoso ou invernia. Apesar de eventuais semelhanças, os radicais das palavras Inverno e hibernar são visivelmente diferentes.
Se queremos associar palavras a partir do seu étimo histórico, então teremos de falar em família etimológica e não apenas em família de palavras, para evitar confusões ou imprecisões. Poderemos, naturalmente, dizer que Inverno e hibernar partilham o mesmo étimo e, nesse sentido, pertencem a uma "família" etimológica comum, mas não à mesma família de palavras, tal como foi definida acima.
N.E. – (21/03/2017) Com as novas regras do Acordo Ortográfico de 1990*, tal como os nomes dos dias da semana e dos meses, os das estações do ano passaram a escrever-se com inicial minúscula. Portanto: «inverno» é como deve ser conforme a norma ortográfica de 1990.
*Vide b) do ponto 1 da Base XIX: Das Minúscusas e Maiúsculas:
«A letra minúscula inicial é usada:
a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes;
b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera;
c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho ou Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor;
d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano;
e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste);
f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula):
senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo;
santa Filomena (ou Santa Filomena);
g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula):
português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).» Já Páscoa e restantes nomes de festividades continuam a escrever-se com maiúculas iniciais conforme a e) do 2.º parágrafo da mesma Base XIX: «A letra maiúscula inicial é usada:
a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote;
b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria;
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/Netuno;
d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social;
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos;
f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo);
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático;
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O; Sr., V. Ex.ª;
i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).
Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras reconhecidas internacionalmente.»