Segundo David Crystal (A Dictionary of Linguistics and Phonetics, Oxford, Blackwell Publishers, 1997), sincretismo é usado em linguística histórica para designar a convergência de formas linguísticas após a perda das suas flexões. O mesmo autor explica ainda que, sincronicamente, o termo se emprega para referir a identidade entre duas formas do mesmo lexema; por exemplo, entre empregue (presente do conjuntivo), e empregue, particípio passado.
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa) adverte que pode haver confusão entre neutralização e sincretismo. O primeiro termo «[...] é a suspensão, em determinado contexto, de uma oposição funcional que existe na língua» (op. cit., pág. 345); por exemplo, em português europeu, os sons [é] (aberto) de fera e o [ê] fechado de pêra passam ambos a [e] “mudo” em posição átona: feroz e pereira. Sincretismo «[...] é a ausência de manifestação material, numa seção de um paradigma ou em um paradigma, de uma distinção de conteúdo que, em outras seções do mesmo paradigma ou em outros paradigmas análogos, se manifesta também materialmente» (idem, ibidem). A flexão verbal ilustra esta situação: a 1.ª e 3.ª pessoas distinguem-se normalmente no paradigma verbal (no presente do indicativo; canto/canta; no pretérito perfeito do indicativo, cantei/cantou), mas há casos em que não há distinção (no imperfeito: eu cantava/ele/ela cantava) (idem, ibidem).
Repare-se que no sincretismo há identidade a nível da forma ou da expressão, mas não ao nível do conteúdo: cantava tem significados ligeiramente diferentes, porque se pode referir a pronomes diferentes – eu ou ela.
Desta maneira, as formas sincréticas não são o mesmo que arcaímos nem são variantes de grafia ou de pronúncia de um mesmo vocábulo. São, sim, o resultado de um processo que levou à identificação fonética de formas diferentes da flexão de uma mesma palavra (verbos, sobretudo).