As formas fadigado e fadigar serão arcaísmos, tendo em conta que têm pouco ou nenhum uso, suplantados que parecem ter sido no uso atual por fatigado e fatigados. Mas não são casos lineares. Por outras palavras são arcaísmos que exigem certo matiz na sua interpretação histórica.
Fadigar está atestado desde o século XV e parece ser a forma romance previsível pela sonorização do t latino intervocálico (fatigare).1 Contudo, fatigar tem atestações do século XIII, o que pode ser surpreendente, porque, se for palavra patrimonial, isto é, se for palavra principalmente transmitida por via popular, já deveria exibir uma dental vozeada – [d].
Parece, portanto, que, por uma razão, que, para já, não se consegue apurar desde a Idade Média, o verbo e o nome respetivo têm duas variantes, uma mais inovadora (fadiga, fadigar, românicas) e outra mais conservadora (fatiga, fatigar, ainda latinas). É possível (não se encontraram fontes que o confirmassem) que nestes itens tenha havido intervenção erudita, por exemplo, por via do latim eclesiástico.
Fadiga é, portanto, o nome que representa essa forma medieval inovadora (em relação ao latim). Contudo, quando se trata do verbo, usa-se hoje fatigar, cujo particípio passado é fatigado, que ocorre como adjetivo («gente fatigada»). Trata-se, portanto, de formas divergentes que se fixaram no uso lexical, muito embora fossem concorrentes em fases mais antigas da língua.
1 Ver Dicionário Houaiss. Na passagem do latim para as línguas românicas ocidentais, o -t- simples entre vogais sonorizou-se geralmente, passando a -d-: cito > cedo.