A construção «ser para» é usada coloquialmente,1 das duas maneiras apresentadas pelo consulente:
a) pessoalmente, no sentido de «alguém ter uma intenção (que não se concretizou)»: «Éramos para ir a Chaves.»
b) impessoalmente, querendo dizer «havia a intenção (que não se concretizou), seguida de oração com infinitivo flexionado: «Era para irmos a Chaves.»
No entanto, não encontro esta construção descrita em dicionários, gramáticas ou prontuários. Na verdade, o que se acha registado é uma outra estrutura, não com o verbo ser, mas com o verbo estar, conforme se atesta no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa:
«[Ser] [s]eguido de um verbo no infinitivo precedido da prep. para, indica intenção, propósito que pode ou não verificar-se. Estou para lhe telefonar há vários dias. Estive para lhe contar tudo, mas arrependi-me.»
Não parece tratar-se exatamente da mesma construção, porque o verbo estar pode ocorrer flexionado em diferentes tempos, enquanto o verbo ser surge apenas no imperfeito quando se lhe associa o referido valor intencional.
1) «Era para lhe telefonar.»
2) ?«Fui para lhe telefonar.»
3) *«Sou para lhe telefonar.»
Nestes exemplos, 1) é que pode permutar com «estava para lhe telefonar». Nos outros casos, «fui» só é interpretável como forma de ir (cf. «fui para te ver»), e «sou» é impossível (a não ser que tenha um predicativo do sujeito: «sou atrevido para lhe telefonar»).
Em suma, parece-me que por enquanto a construção «era para» + infinitivo, exprimindo intenção, tem cabimento no registo informal. Em alternativa, pode recorrer-se a «estar para» + infinitivo, de registo mais neutro e apoiada na descrição lexicográfica.
1 No português europeu e, segundo informação do consultor Luciano Eduardo de Oliveira, também no português do Brasil.