Como se trata de problema surgido a partir de conceitos presumivelmente importados do inglês por professores de Gestão, parece-nos útil citar o Dicionário Michaelis de "Administração, Economia e Marketing" (inglês-português) do brasileiro Auriphebo Berrance Simões, Comp. Melhoramentos de S. Paulo, Brasil, 1989.
No verbete "effective" (efectivo), o autor começa por avisar que este termo «nem sempre encontra o mesmo significado que em português». Frequentemente, pode ser confundido com "effectual" (produtor de efeito), "efficient" (eficiente) e "efficacious" (eficaz). Todos significam produção ou capacidade de produção de um ou mais resultados.
A seguir, Berrance Simões explica as diferenças de significado que estes termos têm em inglês e que, como o dicionarista brasileiro indica, nem sempre é idêntico ao do português. Assim, em inglês, como também se pode verificar no "Oxford Advanced Learner's Dictionary", Oxford University Press, 5.ª edição (1995), e no "Webster's Dicionary of Synonymous", Merriam, Springfield, Mass., EUA (1951):
a) "effective" salienta a produção real de um efeito ou o poder de produzir determinado efeito;
b) "effectual" sugere a realização do resultado que se deseja ou o cumprimento de um propósito;
c) "efficient" aplica-se ao que é activamente operativo e produz resultados por meio de um exercício de energia, como, por exemplo, através de um exercício de perícia, de vigilância – sendo muitas vezes sinónimo de capaz, competente, e aplicando-se geralmente a seres humanos;
d) "efficacious" implica a posse de qualidade ou virtude que dá a uma coisa a potência ou o poder que a torna efectiva – por exemplo, o quinino é "efficacious" (eficaz) nos casos de malária.
Esta é, pois, uma tradução de significados que as quatro palavras têm usualmente em inglês, mas – sobretudo nas diferenças entre eficiente e eficaz – não têm no português que se fala correntemente nem na tradição das línguas portuguesa e latina (cf. respostas anteriores – Eficiência e eficácia, Eficaz = eficiente e Eficácia 'vs' eficiência, de novo).
Nada disto impede, todavia, que peritos de Gestão ou Matemática, por exemplo, cumpridas as regras da formação vocabular, empreguem entre eles palavras e significados que melhor sirvam cada teoria.
Eficiência em Estatística tem um significado preciso que não utilizamos na linguagem do nosso dia-a-dia. Não me lembro de ter ouvido, em conversa, que eficiência seja a «medida da significação da estimativa dum parâmetro, obtida com base em uma amostra, e que é igual ao cociente de variância da estimativa pela variância de um estimador de eficiência máxima» (segundo o dicionário Aurélio, 2.ª ed. ampliada). E, no entanto, esta definição funcionará como instrumento de trabalho, será indispensável a quem a utiliza. Um dicionário com a dimensão do Aurélio (edição "grande") não a ignora. Por alguma razão, contudo, se alheia das diferenças anglo-saxónicas entre eficiência e eficácia.
Quando um dicionário com a ambição do excelente Aurélio adopta uma designação específica e omite outras, isso pode dever-se a dois motivos:
a) falha do dicionarista;
b) falta de implantação da palavra (ou do significado) – até no meio restrito em que se emprega.
Uma licenciada pela Escola Superior de Comunicação Social, que nesta escola de Lisboa concluiu uma cadeira de Gestão de Recursos Humanos, garantiu-me ter tido de aprender, em português, a diferença entre eficiência e eficácia, tal como se indica nos dicionários da língua inglesa. Não cabe aqui avaliar a pertinência da tradução. Um dicionário de português, que se pretenda exaustivo, quase enciclopédico, pode incluir uma referência a este emprego específico, sem que tais significados pertençam ao português corrente. Acontece algo semelhante com algumas expressões que fazem parte do dia-a-dia de um médico ou de um advogado e são desconhecidas da maioria dos falantes que, mesmo com instrução superior, não sejam formados em Medicina ou Direito.
Como referiu o professor Peixoto da Fonseca, eficiência e eficácia têm significado idêntico em latim e português. Ciberdúvidas, através do presente texto e das observações de consulentes, está de algum modo a registar um emprego específico. Este registo vale o que vale, tal como vale o que vale a tradução alegadamente científica que nos impõem. Quando tal tradução se generalizar a um número significativo de falantes, ela não deixará de fazer parte do português.