A palavra em questão tem uma pronúncia instável, como estrangeirismo com uma história curiosa.
Com efeito, é um anglicismo com origem no francês antigo que, no século XX, foi integrado no francês moderno. O português parece ter recebido esta palavra tanto por via do inglês como por via do francês. É provável até que, em Portugal, tenha sido pelo francês que o anglicismo foi transmitido como termo da crítica cinéfila e literária (e é possível que o nosso consultor F. V. Peixoto da Fonseca tivesse conhecimento direto ou intuição disto, para defender a pronunciação francesa).
Atualmente, a situação é a seguinte:
– em inglês, soa como "sâsspense" – cf. transcrição fonética [səˈspɛns] do Oxford English Dicitionary;
– em francês, soa aproximadamente como "siusspanse" – cf. transcrição fonética [syspɑ̃:s] do Trésor de la Langue Française;
– No português de Portugal, a palavra mantém a grafia suspense, mas a sua dicionarização conhece dois registos fonéticos já de feição portuguesa: "suspanse" (cf. [suʃˈpɐ̃s(ə)] na Infopédia e [suʃˈpɐ̃sɨ] no dicionário da Academia de Ciências de Lisboa) e "suspense" (cf. transcrição fonética do Portal da Língua Portuguesa: [suʃpˈẽsɨ]).
A pronunciação mais de acordo com os princípios de correspondência entre ortografia e fonia, no português, é, sem dúvida, a de "suspense", ou seja com a letra u pronunciada como o som [u], o primeiro s chiado e a sequência en articulada como "e" nasal – trata-se da uma interpretação da grafia suspense à portuguesa. Deste ponto de vista, a pronúncia "suspanse" revela-se, portanto, incongruente, porque a sequência gráfica en tem não o valor de "ã", mas, sim, de "ẽ". Note-se a propósito que, no português do Brasil, a palavra é registada com a grafia de origem sem qualquer comentário (cf. Dicionário Hoauiss e Dicionário UNESP do Português Contemporâneo), o que deixa supor que, como é costume dizer, «se lê como se escreve», isto é, a letra u soa [u] e a sequência en corresponde à nasal "ẽ".
Em suma, gostaria de dar um tom mais conclusivo a este parecer, mas existem, pelo menos, quatro realizações da palavra suspense/suspense e bons argumentos para as defender. São legítimas quer a pronunciação inglesa, quer a francesa, marcadas pela grafia suspense, em itálico ou entre aspas para assinalar a sua condição de estrangeirismo sem adaptação ao português. Quanto aos aportuguesamentos existentes, representados pela escrita suspense, o mais consistente é [suʃpˈẽsɨ], que recomendo, muito embora não possamos ignorar o facto de [suʃˈpɐ̃sɨ] ter do seu lado certa força de uso e até de parte da dicionarística portuguesa.