O contexto desta pergunta é relativo à aplicação do Dicionário Terminológico (DT) no ensino da gramática nos níveis básico e secundário em Portugal.
1. Na produção de onomatopeias não há regularidades morfológicas, dependendo a sua configuração da relação de semelhança que os falantes, com alguma arbitrariedade, encontrem entre um som da natureza e os sons da sua língua. No próprio DT se anota que «[a]s onomatopeias diferem de língua para língua, conforme a percepção dos sons e suas respectivas transposições para o sistema fonológico das diversas línguas». Isto explica que o processo de formação das onomatopeias seja visto como irregular.
2. Dado que, no DT, as classes de palavras se definem sobretudo com base no comportamento das unidades vocabulares no contexto da frase, verifica-se que as onomatopeias não são abrangidas por este critério, uma vez que têm características quer lexicais quer frásicas; por exemplo, bum! representa o evento que tanto é designado pela palavra explosão como representado pelas frases «explodiu!», «estoirou!» ou «houve uma explosão». Outra coisa será falar de palavras onomatopaicas, que é um termo não incluído no DT, cujo conceito se relaciona com as onomatopeias, mas já envolvendo a presença de sufixos flexionais e o desempenho de funções sintáticas. Casos como o do substantivo tique-taque («o tique-taque do relógio») ou o do verbo tiquetaquear, embora tenham origem numa onomatopeia, têm flexão (no plural, «os tique-taques»; em modo, tempo, pessoa e número, «tiquetaqeuavam») e fazem parte de constituintes frásicos; são, por isso, enquadráveis em classes morfossintáticas.