Não tem nada de extraordinário. O português e o espanhol (também chamado castelhano) devem as suas semelhanças ao facto de ter havido uma tradição cultural comum na Península Ibérica até meados do século XVII. São línguas com forte tradição normativa, que se foram elaborando a partir de dois dialectos do Norte da Península Ibérica, o galego (ou galego-português), documentado desde o século XII, e o castelhano, atestado desde os finais do século X. Estes dialectos evoluíram do latim vulgar que se falava na Península Ibérica, o qual tinha características lexicais e morfológicas próprias. Por exemplo, em português existe a palavra perna, que tem a mesma origem que a castelhana pierna, em oposição ao catalão cama, ao francês jambe e ao italiano gamba, que significam o mesmo, mas têm outro étimo. Esta diferença, somada a outras, indica que o latim que se falava nos territórios de origem do português e do castelhano se distinguia do latim falado nas actuais Catalunha, França ou Itália.
Não se pode, no entanto, dizer que houvesse uma língua-padrão na região peninsular onde surgiu o português (com o galego) e o castelhano. Existia e de certo modo continua a existir um continuum de dialectos que formam um dos ramos das línguas românicas, o ibero-romance, que se liga a outros ramos de origem latina por dialectos de transição. O ramo ibérico inclui actualmente, além do português e do espanhol, com as suas variedades, outros subsistemas linguísticos, a saber:
— o asturo-leonês, que ainda ocupa grande parte das Astúrias (onde se chama bable), Leão, Zamora, alguns pontos de Salamanca e, em território português, a zona de Miranda do Douro (Trás-os-Montes);
— o aragonês, que já apresenta características de transição para os falares catalães.
Quanto ao catalão e aos seus dialectos, são normalmente incluídos no grupo galo-romance, ao qual pertencem o actual francês e os dialectos occitânicos (o provençal, por exemplo).
Em suma, ainda hoje, sobretudo, no Norte da Península, se nota que os dialectos são todos muito próximos entre si; ao mesmo tempo, apresentam pequenas diferenças, que são mínimas entre zonas dialectais contíguas, mas que, em princípio, aumentam na razão directa do afastamento espacial. A mesma origem latina e a proximidade espacial explicam assim as grandes afinidades existentes entre o português e o espanhol.