Tanto a antítese como o oxímoro — o «paradoxo» literário — são «figuras de pensamento com efeitos de comparação por oposição» (João David Pinto Correia, «A expressividade na fala e na escrita», in Falar melhor, Escrever melhor, Lisboa, Selecções do Reader´s Digest, 1991, p. 497), tal como adynaton1 e o quiasmo2, o que comprova a proximidade entre esses dois processos estilísticos.
Convém, por isso, recordar as respectivas definições, retiradas da obra citada.
Classifica-se como antítese o recurso em que se verifique «aproximação de dois seres, duas realidades, duas situações com sentido antagónico, com o fim de tornar cada um deles mais enfático. […] A antítese compreende — “a antítese de frase”, “a antítese de grupos de palavras” e “a antítese de palavras isoladas”, e tem a coordenação como “fundamento sintáctico”: «Repousa lá no céu eternamente / e viva eu cá na terra sempre triste» (Camões, Sonetos); ou «Entre os servos de Deus há esta diferença: uns são servos de Deus, porque servem a Deus; outros são servos de Deus, porque Deus se serve deles» (Padre António Vieira).
Por sua vez, o oxímoro é considerado como uma «espécie particular de antítese: […] variante especial de antítese de palavras isoladas […] que constitui, entre os membros antitéticos, um paradoxo intelectual. Este “paradoxo” pode resultar de «uma tensão entre o portador da qualidade (substantivo, verbo, sujeito) e a qualidade em si (atributo, advérbio, predicado)»: «Ele era um camponês / Que andava preso em liberdade pela cidade» (Fernando Pessoa, Poesias de Alberto Caeiro); «da tensão entre qualidades (adjectivos, advérbios)»: «Aquela triste e leda madrugada» (Camões, Sonetos); ou da «distinção que afirma a existência e inexistência simultâneas de uma mesma coisa»: «Não levais de vencer-me grande glória. / Maior a levo eu de ser vencido» (Camões, Sonetos).
Tendo em conta de que na frase «Andar (na esteira) sem sair do lugar» nos apercebemos de uma situação em que se «afirma a existência e inexistência de uma mesma coisa» em «andar sem sair do lugar», gerando uma realidade paradoxal, o oxímoro sobressai.
1 Adynaton: «processo que consiste na afirmação exagerada do paradoxo de duas situações vividas, caracterizando principalmente o discurso amoroso de alguns poetas: “Que puderam tornar o fogo frio” (Camões, Sonetos)» (idem, p. 500).
2 Quiasmo: «processo que […] consiste na posição entrecruzada dos elementos correspondentes, em grupos que, entre si, se correspondem, e, deste modo, é ele um meio de dispositivo, que exprime a antítese. Por exemplo: “Brama toda a montanha, o som murmura” (Camões, Os Lusíadas, I, 35)» (idem).