Os versos apresentados integram o poema «A uma ausência» de António Barbosa Bacelar (1610-1663). Neles é possível identificar dois paradoxos, não estando presente a sinestesia.
No primeiro verso, podemos considerar a existência de dois paradoxos, uma vez que o poeta explora a oposição de conceitos (e não apenas de palavras), reunindo-os num mesmo conceito, aparentemente contraditório. Com efeito, o sujeito lírico afirma que anda sem se mexer e que fala estando calado.
No segundo verso, não se identifica a presença de um paradoxo, uma vez que o sujeito lírico descreve uma situação em que aquilo que vê desaparece, ou seja, não explora efetivamente uma contradição, mas uma evolução que vai de algo que se deixa ver para algo que desaparece da vista.
Afirma-se no E-dicionário de termos literários, de Carlos Ceia, o seguinte em relação à sinestesia: «Processo estilístico que consiste na associação, pela palavra, de duas ou mais sensações pertencentes a registos sensoriais diferentes. A utilização de tal figura de retórica permite a transposição de sensações, ou seja, a atribuição de determinadas impressões sensoriais a um sentido que não lhes corresponde. Por exemplo, na expressão “aquela cor é gritante”, a perceção visual (cor) como que é ouvida, processo que acentua a intensidade da mesma.»
Assim, de acordo com este conceito, não consideramos que nos versos 1 e 2, o poeta associe sensações diferentes, transpondo característica de uma para outra.
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