O uso dos verbos ser e estar foi já várias vezes abordado no Ciberdúvidas; desta forma, aconselhamo-lo a consultar as outras respostas sobre este tema, de modo a complementar a explicação que se segue.
A frase a) denota um estado [+permanente], um estado que caracteriza a entidade sujeito:
a) «Sou estudante.»
A propriedade de «ser estudante» é uma caraccterística [+permanente] do sujeito «eu» (omitido), não se podendo dizer «*estou estudante».1
Quanto à frase b), estamos perante uma frase passiva adjectival, com particípio passado: inscrito, também designada por passiva resultativa ou passiva de estado.
Mateus et alii (2003:535) descrevem este tipo de frases:
«Sendo a forma participial que ocorre nestas construções um adjectivo, o verbo flexionado que com ela se combina não pode ser um auxiliar, uma vez que esta classe de verbos apenas selecciona constituintes encabeçados por verbos como seus complementos. Assim, os verbos que ocorrem nas passivas adjectivais são verbos copulativos, pelo que a estrutura sintáctica das passivas adjectivais é idêntica à das frases copulativas. Do ponto de vista interpretativo, enquanto as passivas sintácticas [ex.: «O bolo foi comido pelo João»] focalizam a transição sofrida pelo argumento com papel temático interno directo [no caso anterior, «o bolo»], as passivas adjectivais focalizam o estado resultante da transição sofrida [ex.: «Estou inscrito»].
Esta interpretação aspectual das passivas adjetivais está plausivelmente na origem de restrições sobre os verbos a partir dos quais podem ser derivados os adjetivos que nelas ocorrem.»
Conclui-se que, no caso da frase b), não estamos perante uma frase copulativa tradicional (com ser ou estar), mas antes perante uma passiva adjectival, onde podem ser empregados os verbos estar, ficar ou continuar, mas não o verbo ser:
c) «Ele está inscrito na Turma B.»
d) «Ele fica inscrito na Turma B.»
e) «Ele continua inscrito na Turma B.»
A não ser que se trate de uma passiva sintáctica:
f) «Ele foi inscrito pela Maria.» (A Maria inscreveu-o)
Nesse caso, é uma construção diferente.
Esperamos ter esclarecido a dúvida sobre estes casos, apesar de sabermos que esta questão do ser e do estar é bastante difícil para os falantes de português como língua estrangeira, nativos de uma língua onde não se dê essa alternância (como o francês, por exemplo, que usa apenas a forma être para ser e estar, ou como o russo, que não emprega qualquer verbo copulativo nas construções do presente do indicativo).
Sempre ao seu dispor.
1 É, no entanto, de notar que, ironicamente, se pode dizer «Ele está ministro», significando que não é um bom ministro, apesar de manter essa posição, ou ainda que não é ministro, mas «está ministro», coloquialmente falando: «está armado em ministro»
Referências:
Mateus et alii, 2003, Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho