Não, porque há adjectivos que têm flexão de plural mas uma só forma para os dois géneros — diz-se que são adjectivos uniformes (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, p. 255/256). Por exemplo, diz-se «exército hitita» e «exércitos hititas»; porém, não se aceita «império "hitito"». Por conseguinte, adoptando o modelo dos adjectivos uniformes terminados em -a, como são os casos de hitita, hipócrita ou cosmopolita, pode usar-se extra no plural, sem que isso acarrete a formação de "extro" para o masculino.
Mas aceitemos que extra é adjectivo invariável. A este respeito, cabe logo aqui dizer que não há consenso entre dicionários, vocabulários ortográficos e prontuários. O Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o Vocabulário Ortográfico do Português (ILTEC) e o Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Subtilezas da Língua Portuguesa (Lisboa, Edições D. Quixote, 2010), de Edite Estrela, Maria Almira Soares e Maria José Leitão, indicam que extra adjectivo é invariável; o Dicionário de Questões Vernáculas (Rio de Janeiro, Edições Ática, 2001), de Napoleão Mendes de Almeida, o Dicionário Aulete Digital e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa registam o uso adjectival de extra no plural. Acresce que, não se afastando desta segunda posição, o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, classifica a palavra como adjectivo dos dois géneros sem se referir à possibilidade ou impossibilidade de formação do plural, no que é seguido pelo Dicionário Houaiss (edição brasileira).
Para uma noção mais clara das oscilações e variações do uso de extra como adjectivo, recorri à consulta do Corpus do Português, que revela dados interessantes: em 235 ocorrências da forma extra, 4 são de uso adjectival invariável, em associação com substantivo no plural, em textos brasileiros, e 17 correspondem ao mesmo uso em textos portugueses; em 69 ocorrências de extras, ou seja, da forma de plural, 51 estão associadas a substantivos no plural em textos brasileiros, não havendo nenhuma ocorrência semelhante em textos portugueses. Observa-se também que extra substantivo é usado como palavra invariável apenas num texto português do século XIX (1 ocorrência: «uns extra»), e extras nunca ocorre como adjectivo em textos portugueses, onde se usa só como substantivo (8 ocorrências).
Daqui, sugiro as seguintes conclusões:
a) pelo que se pode inferir de fontes lexicográficas e gramaticais, a norma tem conhecido oscilações no uso de extra como adjectivo;
b) as fontes brasileiras admitem a flexão de plural, enquanto as portuguesas se dividem, umas apresentando essa flexão, outras acolhendo extra como palavra invariável;
c) a análise de um corpus confirma a generalização do plural morfológico de extra, extras, no português brasileiro, enquanto, em português, extra tende a ser vocábulo invariável.
É de notar também que extra está actualmente dicionarizado como substantivo flexionável no plural: extra/extras. Como prefixo, isto é, como forma não autónoma, é invariável como os outros prefixos: extraleve/extraleves; extraprograma/extraprogramas.1
1 Sobre a evolução de extra na língua portuguesa, diz o Dicionário Houaiss: «adv. prep. e pref. lat. extra "na parte de fora, além de, por exceção"; não tem continuadores como adv. ou prep., passando às línguas român. como pref. lat. de valor sup., na acp. orign. "que está além de"; a partir desse uso como pref. (cp. extraordinário, extrafino), adquire autonomia como adj. intensificador, depois substv., para designar fatos, pessoas ou objetos com o traço de "ir além, estar fora" do que costuma ocorrer; como voc. autônomo valorativo, exprime as noções de qualidade, quantidade ou situação excepcionais, fora do comum [...]» Considero provável que a invariabilidade de extra adjectivo advenha precisamente da sua origem adverbial e preposicional (os advérbios e as preposições são, como se sabe, palavras invariáveis).