DÚVIDAS

Ainda a expressão «de todo»

Alguns colegas meus afirmam com convicção que a expressão «de todo» só pode ser utilizada em reforço de negação (ex.: «não, de todo») e nunca no sentido oposto (ex.: «sim, de todo»).

A meu ver, «de todo» refere-se a «totalidade», pelo que ambas as formas de utilização são correctas. Certo?

Gostaria ainda que me elucidassem relativamente à classificação gramatical da mesma expressão.

Resposta

A expressão «de todo», sinónima de «totalmente, completamente», pode ser usada em frases afirmativas e negativas (exemplos de Énio Ramalho, Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa):

1. «Aquele rapaz anda tolo de todo [...].»

2. «Não se podem considerar ainda de todo esclarecidas as razões que o levaram a demitir-se do cargo.»

3. «O traço da dureza faltava de todo no estilo daquele escritor.»

No entanto, deve-se observar que «de todo» se associa a adjectivos, particípios passados e verbos que têm conotação depreciativa (por exemplo, tolo), disfóricas («andar perdido de todo») ou negativas (faltar = «não existir»). É, portanto, estranho ou mesmo inaceitável que se diga que «ele anda inteligente de todo», «estão de todo esclarecidas as razões» e «esse traço existia de todo no seu estilo».

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa