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O verbo irromper pode selecionar um complemento de natureza locativa ou temporal:
1. Os meninos largaram a brincadeira e irromperam na sala (abonação do Dicionário Houaiss) – valor locativo (lugar onde);
2. A água irrompeu da parede em jorros (abonação adaptada, idem) – valor locativo (lugar donde)
3. A violência policial irrompeu logo nos primeiros minutos do comício (abonação adaptada, idem) – valor temporal.
É verdade que na maior parte das fontes consultadas não se recolhem exemplos do uso de sobre associado a irromper, mas, considerando que irromper tem por sinónimos arrojar-se e precipitar-se (cf. idem e Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado), verbos compatíveis com essa preposição, afigura-se legítimo que ela também se associe ao verbo em causa. Aliás, pode-se atestar este uso, por exemplo, num escritor da contemporaneidade, tido por excelente cultor da língua culta:
3. «Mas sobre o tremor íntimo irrompeu uma vulcânica consternação, também ela interior, que apenas se manifestou no gesto de apertar o nó da gravata» (Mário de Carvalho, Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto, 1995, in Corpus de Referência do Português Contemporâneo).
E podem encontrar-se usos esporádicos no século XIX:
4. «Ao mesmo tempo, do segundo andar do palácio irrompiam sobre os beleguins[*], fulos de marciais raivas, não só as alfaias de madeira, mas até as vasilhas de barro, mais secretas e menos olorosas, das alcovas.» (Camilo Castelo Branco, A Caveira da Mártir, idem).
Em suma «irromper sobre» é uma possibilidade de uso de irromper, ainda que, no passado mais ou menos recentes, se tenha realizado raramente.
[*] Beleguins: oficiais de justiça.