Recomenda-se «até esse momento», sem a preposição a.
A pergunta tem que ver com o uso de até no português de Portugal, em referência a um limite no espaço ou no tempo. Como se sabe, na referida variedade, emprega-se até com a preposição a – constituindo a locução prepositiva até a – antes de artigo definido (o, a, os, as): «até ao café», «até à véspera». A locução ocorre ainda com o possessivo, quando este é acompanhado do artigo definido, como acontece geralmente: «até à minha casa» («a minha»), «até ao meu aniversário» («o meu»). Antes de outros especificadores (determinantes, como os demonstrativos este ou esse, ou quantificadores, como todo)1, só aparece a preposição até: «até este/esse momento», «até este/esse instante», «até esta/essa data», «até todo o ano de 2017».
Dito isto, convém, no entanto, assinalar que se registam exemplos de até a com o artigo indefinido mesmo na escrita literária ou culta:
1. «No pendor do monte, coberto de carvalhos e de fragas musgosas, brota a fonte nomeada, que já em tempos de El-Rei D. João V curava males de entranhas – e que uma devota senhora de Corinde, D. Rosa Miranda Carneiro, mandou encanar desde o alto até a um tanque de mármore, onde agora corre beneficamente, por uma bica de bronze, sob a imagem e patrocínio de Santa Rosa de Lima» (Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires in Corpus do Português).
Quanto aos demonstrativos, afigura-se quase sistemática a coocorrência de até a e de aquele ou aquela, sendo este um uso legitimado pela sua generalização no português de Portugal:
2. «Até àquele dia, em que jantaram os três no " Vieux Paris ", não se encontraram mais» (António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços, idem).
É, pois, legítimo concluir que «até a esse momento» reflita o alastramento de «até a» a outros contextos. Nota-se, não obstante, que a ocorrência da locução «até a» junto de este/esta ou esse/essa é muito marginal, o que leva a preferir a preposição simples – «até este/esse momento».
1 A Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, pág. 1556, n. 86) observa: «Alguns falantes usam até a quando o sintagma nominal complemento é iniciado por um artigo indefinido: cf. vou até a uma aldeia muito bonita; por aí, vai-se até a um conjunto de aldeias históricas.» Trata-se, portanto, de um uso que se aceita, pelo menos, numa perspetiva normativa que conjugue a tradição prescritiva com os dados da observação do uso linguístico.