A pergunta que é feita relaciona-se com aspetos da análise morfológica só abordados nos estudos universitários. Mesmo assim, diga-se que as palavras preposição, advérbio e pronome são todas palavras complexas; no entanto, não são palavras compostas. Na verdade, duas delas – preposição e pronome – podem ser encaradas como palavras complexas derivadas, ainda que a sua formação em português tenha aspetos históricos importantes:1
a) pre-+-posi-+-ção → preposição;2
b) pro-+nome → pronome.
Numa perspetiva do atual funcionamento da língua portuguesa, considera-se que a) e b) se enquadram em esquemas morfológicos que estão ativos no português contemporâneo, apresentando afixos (prefixos e sufixos) em uso na atualidade e relacionando-se, assim, com casos como prever (pre-+ver) e propor (pro-+por), que incluem, respetivamente, pre- (variante átona de pré-) e pro- (variante átona de pró-).
Quando a advérbio, sendo palavra complexa, não é composta nem derivada:
c) ad+-vérbio
Em c), o elemento -vérbio, embora reconhecível, não corresponde exatamente a uma palavra autónoma do português que seja produtiva na derivação prefixal de outras palavras; é certo que existem provérbio e prevérbio (cf. Dicionário Houaiss), mas não se identificam novos lexemas que exibam, como base de derivação, o elemento -vérbio , cuja ocorrrência não é significativa como a de pôr ou nome. A Gramática Derivacional do Português (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013, pág. 262), de Graça Rio-Torto e outros autores, denomina palavras do tipo de advérbio como «palavras complexas não derivadas», descrevendo-as do seguinte modo:
«Um lexema como conceber é um lexema complexo, porque constituído por mais do que um morfema (con+ceb), mas não derivado. O constituinte -ceb- não tem autonomia em português para servir de radical a novas formas e dificilmente se consegue delimitar a significação de -ceb-, apesar de -ceb- ocorrer noutros lexemas, como receber, perceber. Palavras deste tipo, como também aferir, conferir, referir, deferir, são constituídas por vários morfemas (con-+-ceb-; re-+-ceb-; per-+-ceb-; a-+-fer-; con-+-fer-; re-+-fer-; de-+-fer-), que conseguimos destacar através da comparação e identificação com outros morfemas existentes noutros lexemas. Contudo, os constituintes -fer- e -ceb- não estão disponíveis em português para criar novos lexemas. Para além disso, a significação desses morfemas nem sempre é linear. Por este motivo se diz que estes constituintes são opacos e não transparentes [...].»
1 Note-se que, do ponto de vista histórico (diacrónico), as palavras em questão são empréstimos do latim culto que foram adaptados ao português. Em latim, tais palavras são consideradas, geralmente, como palavras derivadas por prefixação, que resultam da adjunção de um prefixo a uma base de derivação (o prefixo pode alterar os seus segmentos finais, devido a regras de assimilação específicas do latim).
2 O elemento (radical) posi- pode ser visto como uma variante do radical do verbo pôr, se a análise for feita tendo em conta apenas os dados do português contemporâneo, que, naturalmente, são acessíveis à intuição de qualquer falante da atualidade, sem recurso a informação histórica.