Segundo Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 854, coloca-se o pronome antes do verbo (na chamada posição proclítica) em frases introduzidas por complementadores simples e complexos, ex.: «Sei que o João a viu no cinema ontem»; «Perguntaram ao Zé se o Pedro lhe entregou o livro»; «O Pedro pediu à Maria para lhe telefonar logo»; «Avisa a Maria logo que/mal a vejas»; «Embora se despachasse tarde, o João ainda passou cá por casa»; «Visto que/porque se despachou tarde, o João não passou cá por casa».
Simplificando, podemos dizer que, regra geral, na esmagadora maioria das orações subordinadas, os pronomes átonos deverão ser colocados em posição pré-verbal (cf. Lindley Cintra e Celso Cunha, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 312; leia-se também esta resposta).
Assim, tendo em conta o exposto, podemos concluir que, no caso concreto do enunciado proposto pela prezada consulente, o pronome se deverá ser colocado antes do verbo, tal como acontece no contexto da segunda frase sugerida: «Por força de o prazo de validade se encontrar ultrapassado.» Repare-se que estamos na presença de uma oração subordinada introduzida por uma locução subordinativa causal/complementador complexo – «Por força de» –, facilmente substituível, por exemplo, por «visto que» ou «porque»: «Visto que o prazo de validade se encontra ultrapassado»; «Porque o prazo de validade se encontra ultrapassado».
Finalmente, permita-me a consulente que dê apenas conta de uma breve nota relativamente à construção sintática da frase transcrita: em português, a contração de preposições com artigos é muito comum, ex.: dum, desse, dele, daqui. Contudo, a não-contração é obrigatória quando a preposição introduz uma oração infinitiva, ex.: «O facto de o João se encontrar longe não me impede de falar com ele todos os dias»; «O facto de o prazo de validade se encontrar ultrapassado não é motivo para eu apresentar queixa às autoridades». Deste modo, a formulação correta do enunciado apresentado pela consulente deverá ser «Por força de o prazo de validade se encontrar ultrapassado», e não «Por força do prazo de validade se encontrar ultrapassado». Leia-se, a este propósito, o elucidativo artigo de Ana Martins, Contrações.