DÚVIDAS

Concordância: «Quanta luz é o suficiente para...»
Num artigo deparei-me com a seguinte sequência: «Quanta luz é o suficiente para...» Tendo em conta que luz é nome feminino, não deveria existir uma concordância entre esse nome e a expressão «o suficiente»? Sei que «o suficiente» é uma expressão adverbial, contudo sendo o verbo ser selecionador de predicativo do sujeito, pergunto se é possível manter a estrutura da expressão adverbial. Obrigada.
A sintaxe do verbo recorrer
Vi recentemente um exercício de gramática que suscitou uma dúvida. No exercício pedia que se sublinhasse o complemento oblíquo: «Sempre que tem problemas, a Mónica recorre aos pais.» Nas soluções do exercício aparece «aos pais» como complemento oblíquo. No exercício seguinte era, então, pedido que substituíssem o complemento oblíquo por um pronome (precedido de preposição). Nas soluções aparecia «Sempre que tem problemas, a Mónica recorre a eles». É possível dizer-se/escrever-se "recorre-lhes"? Se sim, não seria de considerar que "aos pais" é complemento indireto? No mesmo exercício, numas alíneas à frente, aparecia a frase «Ele estava muito feliz com aquela notícia». «Muito feliz» acredito que seja predicativo do sujeito por ser "pedido" por um verbo copulativo (estar). Assim, qual seria a função sintática de "com aquela notícia"? Modificador? Obrigada pela atenção.
O uso pronominal do verbo orientar
«Ele é o viajante que se orienta pelas estrelas.» Nessa frase há a voz passiva sintética? A expressão «pelas estrelas» é o agente da passiva em uma voz passiva sintética? Na passiva sintética é correto usar o sujeito paciente antes do verbo como na frase acima (o viajante que se orienta) e nestas frases? «Apartamentos se alugam.» «Um erro se cometeu.» «Casas se vendem.» «Uma recompensa se ofereceu.»
Análise e classificação de «o que»
A dúvida coloca-se em relação à frase: «Os conteúdos são os que saíram no último teste.» O meu entendimento é o seguinte: «Os conteúdos são os que saíram no último teste» = «os conteúdos são os [conteúdos] que saíram no último teste» = «os conteúdos são aqueles que saíram no...» Predicativo do Sujeito – os [conteúdos/aqueles] que saíram no último teste – or. subordinada adj. relativa restritiva Função sintática do pronome relativo – sujeito («os conteúdos saíram no último teste») Função sintática da oração subordinada: modificador do nome restritivo (= «os conteúdos 'saídos' no último teste»; «os conteúdos já avaliados»). Na gramática de Lindley Cintra e Celso Cunha, lê-se: «As orações subordinadas adjetivas vêm normalmente introduzidas por um PRONOME RELATIVO, e exercem a função de ADJUNTO NOMINAL, de um substantivo ou pronome antecedente» (os destaques são dos autores). O exemplo dado para a situação em que o pronome é o antecedente é: «O/que tu vês/é belo;/mais belo o/que suspeitas;/ e o/que ignoras/muito mais belo ainda» (Raul Brandão). Vejo este exemplo como equivalente apresentado em cima. Bem sei que esta gramática está desatualizada e eu não tenho trabalhado com a nova terminologia gramatical (Dicionário Terminológico – DT), mas as atualizações não ocorreram na classificação básica da subordinação (adverbiais/adjetivas/substantivas), pois não? A verdade é que o DT apresenta o «o que» como introdutor da oração subordinada substantiva relativa, embora sem dar exemplos. Poderá ser uma gralha? Como ensino, sobretudo, Latim, sempre que tenho dúvidas, recorro à gramática latina. Este tipo de construção (pronome antecedente da oração relativa) é muito comum em latim: Is qui aliēnum appĕtit suum amittit (Fedro): «aquele que cobiça o alheio perde o seu» (Is – pronome demonstrativo, no nominativo singular masculino; qui – pronome relativo, no nominativo singular masculino) (...) atque ea quae animos effeminant important (César): «(...) e importam aquelas coisas que efeminam os espíritos» (ea – pron. demonstrativo, no acusativo plural neutro; quae – pronome relativo no nominativo plural neutro). Do mesmo modo, tenho dificuldades em compreender a classificação de oração subordinada substantiva relativa em exemplos como «Não sei [O QUE DISSESTE]», lido num outro esclarecimento vosso, pois vejo o o como antecedente do que, podendo ser substituído por aquilo, e assumindo a oração subordinada um valor atributivo («Não sei aquilo que foi dito por ti/Não sei o dito por ti»). Escrevendo esta oração subordinada em latim, não teria alternativa a não ser a subordinada relativa com o pronome no neutro: Nescio QUOD dixisti. Agradeço os esclarecimentos que me possam dar, pois eu e diversos colegas não conseguimos chegar a um entendimento.
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