DÚVIDAS

Uma ocorrência ambígua da conjunção coordenativa ou
No texto [de um autor brasileiro], há uma frase que parece imprecisa. Ela deixa no ar certa ambiguidade, já que parece elidir os termos gramaticais do que/ao invés de. O trecho é: «A poesia tem uma realidade independente da matéria que serviu para sua criação, é por assim dizer exterior a essa matéria, participando muito mais do espírito de seu criador, ou da época, da finalidade, das circunstâncias, do ambiente em que foi criada.» Minha dúvida se refere ao uso do ou. Caso o autor tivesse utilizado do que/ao invés de, não haveria qualquer ambiguidade. Estou certo? Observem o argumento, a premissa «a matéria da poesia participa do espírito do seu criador», entra em contradição com a continuação da frase... Pois se pode sofrer influência de tudo, não tem porque afirmar a premissa inicial, não é? Eu ocultei o autor, pois a fama dele pode inibir o juízo imparcial do especialista [...].
Ainda o verbo bastar
Cumprimento-os por este belíssimo site de auxílio a tantos amantes da língua portuguesa. Quanto tenho usufruído dele! Minha dúvida recai sobre o verbo bastar. Em muitas situações, mesmo quando o utilizamos como intransitivo, ele parece pedir um complemento. Exemplos: a) «Bastou ela ir embora para ele voltar.» b) «Bastou o sol surgir, que as ideias também nasceram.» c) «Bastou que o meu pai falasse, e todos se manifestaram.» Estão essas frases acima corretas? Pode-se usar o verbo bastar seguido da preposição para ou das conjunções que ou e? Há exemplos parecidos no Aurélio, Houaiss e Luft (Dicionário Prático de Regência Verbal), mas nada muito esclarecedor. Peço-lhes ajuda.
A combinação de pronome demonstrativo com pronome indefinido
Li o seguinte numa publicação religiosa: «Precisamos de alguém de fora para dar-nos o domínio próprio que os estóicos desejavam, e esse alguém é o Espírito Santo.» Nunca vi nos melhores escritores a combinação de um pronome demonstrativo com um pronome indefinido, mas percebo que tal junção se tem intensificado nas matérias que se publicam aqui. Necessito de vossa opinião, pois creio ser muito estranha essa sintaxe... Acredito também que tal arranjo não tem nenhum apoio clássico. Na língua latina nunca jamais vi «hic aliquis» nem «iste aliquis». Illustrate me! Tenebras solvite!
Concordância em «... nenhuma (das questões) me ofendeu...» + benfeito
No dia 21/03/2010, na Rede Gazeta de Televisão, no programa Prazer em Conhecer, o entrevistado é promotor de justiça, com pós-graduação, doutorado e mestrado segundo ele. Foi feita a pergunta pelo entrevistador se alguma das perguntas havia lhe ofendido, ele respondeu: «Das perguntas que foram feitas, nenhuma das questões me ofendeu.» Gostaria de saber se o verbo ofender neste caso fica mesmo no singular ou no plural. A outra questão é: na revista Veja número 12, edição 2157, de 24/03/2010, pág. amarela, o escritor escreveu a palavra "benfeito", não encontrei no meu dicionário Houaiss. Gostaria de saber se está mesmo correto, ou foi equívoco, ou se escreve bem feito (separado). Desde já meus sinceros agradecimentos.
Sobre o verbo mudar
O verbo mudar, na acepção de «trocar de alguma coisa» (por exemplo, de casa), é reflexivo? Ouve-se muitas vezes a expressão «Ele mudou-se de casa», mas segundo dá a entender o Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses, de Winfried Busse, não se trata, neste caso, de um verbo reflexivo, mas sim de um verbo transitivo indirecto não pronominal. Isto significa que a estrutura correcta é «Ele mudou de casa». Confirmam esta minha conclusão? Grato pela atenção pronta que sempre dispensaram às minhas questões.
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