Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual a melhor maneira de dizer:

1) ir/ficar com as mãos a abanar;

2) ir/ficar de mãos a abanar.

Obrigado.

Resposta:

O mais adequado ou correto é «ir/ficar de mão a abanar» que significa «ir/ficar com as mãos vazias, sem lucrar ou tirar proveito da situação». Por outro lado, a expressão com a preposição com – «ir/ficar com as mãos a abanar» –, embora variante da expressão em apreço e, portanto aceitável*, refere-se também, de modo genérico, ao movimento real que podemos fazer com as mãos, ou seja, abaná-las. 

* António Nogueira Santos, em Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1988, p. 242), regista a expressão aceitando ambas as preposições: «andar/ficar com as mãos/de mãos a abanar (popular): não obter, não receber o que se esperava ou pretendia; não ser contemplado.»

 

Cf. 13 Frases Feitas e seu significado 18 Frases Feitas e seu significado 

Uma notícia cheia de pecadilhos... evitáveis
Défice de revisão minimamenta atenta

Erros em pouco mais de uma dúzia de linhas...  inaceitáveis em letra de forma.

Pergunta:

Qual a diferença entre flexibilidade e flexibilização?

Resposta:

O substantivo flexibilidade está atestado como sendo a «qualidade do que é flexível, elasticidade; facilidade de ser utilizado ou manejado, maleabilidade; facilidade de movimentos, agilidade, destreza; característica do que é dócil, docilidade, brandura» (Dicionário da Porto Editora), significa ainda, em sentido figurado «capacidade para se aplicar a estudos de caráter diverso ou realizar diferentes atividades, disponibilidade de espírito; capacidade de se adaptar a diferentes situações, adaptabilidade; possibilidade de adaptação de algo aos interesses de alguém» (idem).

Flexibilização é «o ato ou efeito de flexibilizar, de tornar flexível ou menos rígido; redução ou eliminação de regras ou medidas coercivas; abrandamento do rigor ou da severidade de algo» (idem). 

Dado o significado dos substantivos, percebemos que se diferenciam na medida em que, enquanto no primeiro falamos de algo que é flexível por natureza, no segundo falamos de uma ação que leva a que algo se torne flexível. Veja-se os exemplos:

1. «Há que ser flexível para aceitar as diferentes opiniões»;

2. «A flexibilização das pessoas é importante na aceitação das diferentes opiniões.» 

Pergunta:

O que significa «acção depurativa no organismo»?

Resposta:

O adjetivo depurativo está atestado com o significado de «aquilo que serve para depurar; [substância, ato fisiológico] que ou que promove a eliminação de substâncias inúteis ou prejudiciais ao organismo». Como a expressão «ação depurativa do organismo» se reporta a substância ou ato fisiológico, então a mesma expressa a ação que leva à eliminação de substâncias inúteis ou prejudiciais ao organismo. 

 

N.E. – Manteve-se na pergunta a norma ortográfica em vigor em Angola, anterior ao AO de 1990. Daí a diferença, em relação à grafia do substantivo acção vs.ação.

Pergunta:

A frase «Que Deus lhes acuda» está correta? Não deveria ser «Que Deus os acuda», sendo os referente aos homens (por exemplo)? O pronome lhe não carece de uma identificação do que está a ser acudido? Por exemplo, «Que Deus lhes acuda a alma»?

Obrigado!

Resposta:

O verbo acudir é, na oração em apreço, um verbo transitivo indireto, ou seja, tem complemento indireto. No caso, não sabendo exatamente de quem se trata, sabemos que existe um -lhes, que é o pronome pessoal do complemento indireto. Veja-se este exemplo: «Que Deus acuda aos meus pais» (acudir, no caso,  tem sentido de «socorrer»). Na oração, «aos pais» são o complemento indireto, por isso pode ser substituído por lhes: «Que Deus lhes acuda». 

Se, como o consulente afirma, a oração fosse «Que Deus os acuda», então estaríamos na presença de acudir como verbo transitivo direto, ou seja, um verbo acompanhado de complemento direto. Neste caso, o complemento direto é o pronome os que substitui, por exemplo, «os homens»: «Que Deus acuda os homens» → «Que Deus os acuda.» Esta construção mantém o mesmo significado da acima descrita.