Pergunta:
Gostaria de saber se a concordância entre os tempos dos verbos das seguintes orações é aceitável:
«Não abrimos mão, porém, assim sem mais nem menos, mesmo que tal fosse possível, de semelhante honra.»
O «ser possível» é, na frase em questão, uma impossibilidade definitiva. Ora, se substituíssemos, seguindo as regras de concordância, «mesmo que tal fosse possível» por «mesmo que tal seja possível», já estaríamos a abrir uma hipótese de «vir a ser possível», certo?
Por outro lado, o «não abrimos mão» é um facto consumado, que está mesmo a acontecer, logo substituí-lo por um «não abriríamos mão» desvirtuaria o sentido da frase...
Mas a frase fica correcta, contudo, tal como a escrevi em cima?
Muito obrigada!
Resposta:
1. A forma verbal «não abrimos» pode corresponder ao presente do indicativo ou ao pretérito perfeito. Contudo, inserida neste contexto, a interpretação mais imediata é a de presente do indicativo, pelo que é preferível o uso do presente do conjuntivo seja, na segunda oração: «Não abrimos mão, porém, assim sem mais nem menos, mesmo que tal seja possível, de semelhante honra.»
2. Substituindo «mesmo que tal fosse possível» por «mesmo que tal seja possível», não estamos a pôr a hipótese de «vir a ser possível», precisamente porque ambas as formas verbais — fosse e seja — se encontram no modo conjuntivo, o qual exprime uma pressuposição hipotética, e não factual.
3. O uso do condicional («não abriríamos mão») não é aconselhável neste caso, porque, à semelhança do conjuntivo, não exprime um facto, mas sim uma eventualidade.


