Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Porquê «estar anexo», e não «estar anexado»?

Resposta:

Pode dizer «está anexo» e «está anexado». Como adjetivo, usa-se anexo associado a um substantivo («documento anexo») ou aos verbos estar ou ficar («o documento está/fica anexo a esta carta»). A forma anexado é o particípio passado de anexar e usa-se em tempos compostos e na voz passiva (incluindo a que exprime resultado, construída com estar – «este país foi/está anexado pela potência vizinha»).

Sobre os usos de anexo e anexado, diz Maria Helena de Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora UNESP,  2003):

«1. Anexado é o particípio do verbo anexar, usado tanto com os auxiliares ter e haver como com os verbos ser e estarEla não trabalha, vive de rendas e tinha ANEXADO escrituras de seus móveis [...]. ♦ No final de agosto, o consulado foi fechado por ordem das autoridades soviéticas, que haviam ANEXADO a Lituânia. [...] ♦ Requerimento do Sr. Joaquim Coutinho Marques foi ANEXADO a outro idêntico, que tramita nas Comissões da Câmara [...]. ♦ [...] estão ANEXADAS ao processo declarações de peritos no assunto [...].

2. Anexo é adjetivo, e, portanto, varia para fazer concordância com o substantivo a que se refere. ♦ Mande sua resposta em três vias, [...] num envelope ANEXO [...]»

Note-se que, nas aceções de «apenso» e «correlacionado», se usa o adjetivo anexo, mesmo com o verbo estar: «Este é o documento (que está) anexo à carta.» Não obstante, seguindo a descrição de Moura Neves, aqui citada, é também possível d...

Pergunta:

Gostava de saber o que significam os títulos começados com do ou da como, por exemplo, «Das coisas por dizer» ou «Dos sinais opressores».

Encontro este tipo de títulos em ensaios. Suponho que seja uma opção estilística que retira o sujeito ao título e que os exemplos dados poderiam ser, na verdade, «Reunião das coisas por dizer» ou «Análise dos sinais opressores».

Não sou da área linguística por isso nem sequer posso afirmar com toda a certeza que se trata de títulos sem sujeito. Mas tenho muita curiosidade para esclarecer este assunto.

Obrigada.

Resposta:

Não nos foi possível identificar nenhuma obra que aborde concretamente o tema na génese da pergunta que a consulente nos apresenta. No entanto, pese embora a falta de fontes que sustentem a nossa argumentação, podemos admitir que estamos perante formas, digamos, de sabor arcaico que apresentam uma alternativa a locuções da índole de «acerca de», «a propósito de» ou «a respeito de».

Formalmente, estamos perante um sintagma preposicional – grupos de palavras introduzidos por uma preposição; nos exemplos postos à nossa consideração, as preposições do e da –, originariamente um complemento que, neste caso, possui autonomia estrutural e que encontramos frequentemente em títulos, tais como títulos de ensaios, como de resto a consulente refere, de tratados e/ou de obras literárias.

É um recurso que, estamos em crer, muitas línguas modernas, entre as quais o português, o espanhol e/ou o italiano, herdaram latim clássico e que corresponderá – inferindo semântica e textualmente o seu valor – ao complemento circunstancial de matéria latino. A este propósito, diz-nos António Freire (Gramática Latina, Braga, Livraria Apostolado da Imprensa, p. 199): «A matéria, sobre que versa um discurso, um escrito ou um pensamento, põe-se em ablativo¹ com de ou super; corresponde à expressão portuguesa "acerca de".» Um exemplo clássico é o comentário de Júlio César De Bello Gallico, ou Acerca da guerra gaulesa.

¹ Caso latino. Os casos latinos são as diferentes formas que os substantivos, os adjetivos e os pronomes adquirem consoante as suas funções sintáticas; o caso ablativo corresponde a muitos complementos circunstanciais, como o de matéria de que agora tratamos.

Pergunta:

Gostaria de saber porque a palavra retreinamento não existe no dicionário da língua portuguesa. Esta palavra é reconhecida como oficial? Pergunto pois gostaria de fazer uma proposta e usar este termo, porém não sei se ela é realmente oficial.

Obrigada.

Resposta:

A versão digital do Dicionário Aulete regista a palavra retreinamento, apresentando a seguinte aceção da mesma: «Processo que retoma e complementa as instruções já dadas ao mesmo funcionário ou esportista.» Na mesma fonte encontramos de igual modo a forma verbal retreinar, da qual a palavra retreinamento deriva.

Convém acrescentar que, dada a produtividade na língua portuguesa do prefixo re-, nem todas as palavras em uso nas quais encontramos o referido prefixo estão dicionarizadas, em parte porque a nossa própria intuição nos permite aceder ao seu significado, sendo por isso desnecessária a sua dicionarização.

Pergunta:

Não sei como devo utilizar a palavra PowerPoint no seguinte contexto: «Estava cansada de apresentar PowerPoint's» ou «Estava cansada de apresentar powerpoint's» ou ainda «Estava cansada de apresentar powerpoints».

Agradeço a vossa preciosa ajuda.

Resposta:

Pelo que pudemos compreender, o recurso à pluralização do substantivo PowerPoint (que designa a popular ferramenta de apresentação de diapositivos) consiste numa conversão daquele substantivo próprio em substantivo comum, com o sentido de «slide» ou «página de PowerPoint». Parece-nos que mesmo em inglês corrente, descontando usos informais, não é muito comum a utilização de powerpoints enquanto substantivo comum. Para atestar tal uso basta recorrer a um motor de busca e pesquisar as suas ocorrências. No entanto, e caso pretenda usar o substantivo comum powerpoint, parece-nos que deve usar a forma powerpoints, sem apóstrofo, uma vez que o morfema -s indica o plural, tanto em inglês como em português. Dado que o termo ainda não tem aportuguesamento ortográfico e morfológico correspondente nem se encontra dicionarizado – constituindo por isso um estrangeirismo –, deverá colocá-lo ou em itálico ou entre aspas.

Pergunta:

Gostaria de saber porque a palavra retreinamento não existe no dicionário da língua portuguesa. Esta palavra é reconhecida como oficial? Pergunto pois gostaria de fazer uma proposta e usar este termo, porém não sei se ela é realmente oficial.

Obrigada.

Resposta:

A versão digital do Dicionário Aulete regista a palavra retreinamento, apresentando a seguinte aceção da mesma: «Processo que retoma e complementa as instruções já dadas ao mesmo funcionário ou esportista.» Na mesma fonte encontramos de igual modo a forma verbal retreinar, da qual a palavra retreinamento deriva.

Convém acrescentar que, dada a produtividade na língua portuguesa do prefixo re-, nem todas as palavras em uso nas quais encontramos o referido prefixo estão dicionarizadas, em parte porque a nossa própria intuição nos permite aceder ao seu significado, sendo por isso desnecessária a sua dicionarização.