Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o diminutivo e o aumentativo de ?

Obrigada.

Resposta:

O diminutivo de , seguindo as regras de formação do grau dos substantivos em português, é rãzinha ou rãzita.¹ Dado este substantivo terminar, no grau normal, em vogal nasal, forma o grau diminutivo sinteticamente com o sufixo –zinha, tal como lãzinha ou maçãzinha. Quanto ao grau aumentativo, parece-nos que a forma a usar será rãzona. No entanto, note-se que, ainda que o recurso em questão faça parte das virtualidades do sistema morfológico português, os falantes parecem evitar o uso desse aumentativo, em parte devido a razões eufónicas (por outras palavras, evitam sons que possam ser “desagradáveis” ao ouvido), optando pelo recurso a estratégias analíticas para exprimir a noção de grandeza, tais como «rã grande/enorme/gigantesca». Mais informação acerca do grau dos substantivos aqui e aqui.

¹ No português europeu, não é de excluir a possibilidade nos dialetos meridionais (falares do Baixo Alentejo e Algarve) ocorrer a forma ranita, de acordo com o modelo de canito (cão) e manita (mão). Cf. Luís Filipe Lindley Cintra, "Áreas lexicais no território português", in Estudos de Dialectologia Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa Editora, pp. 74/75, nota 40.

Pergunta:

Qual a forma certa?

«Não cheguei de ir, de realizar», ou «não cheguei a ir/a realizar»?

Resposta:

Nos exemplos que a consulente apresenta, a forma correta – de acordo com a norma portuguesa – é «não cheguei a ir, realizar», desempenhando o verbo chegar a função de verbo auxiliar do complexo verbal. Quando regido pela preposição de, o verbo chegar indica, entre outros valores e segundo o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses*, proveniência de um determinado local (podendo ser substituído pelo verbo vir: «cheguei de Madrid/venho de Madrid») ou então assume sentido impessoal, semelhante ao valor do verbo bastar («chega de fazer disparates/basta de fazer disparates»). Mais informação acerca do verbo chegar aqui.

No entanto, atendendo à origem da pergunta (Angola), não podemos descartar a hipótese de estarmos perante um uso inerente ao português de Angola, apesar de faltarem fontes que o atestem. De qualquer modo, trata-se, por enquanto, de uma variante não aceite pela norma culta.

*Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Dir. João Malaca Casteleiro, Texto Editores.

Pergunta:

Numa resposta dada em 20/06/2005, pelo vosso consultor Duda Guennes, diz-se: «Até 1911, com a reforma ortográfica no Brasil, baía escrevia-se com h: bahia

Dúvida: Reforma Ortográfica no Brasil? Em 1911, foi adotado o Formulário Ortográfico, mas apenas em Portugal. Penso que a introdução dessas regras ocorreu no Brasil apenas cerca de vinte anos mais tarde. Estarei enganado?

Obrigado e parabéns pelo generoso trabalho que põem ao dispor dos leitores.

Resposta:

Os nossos agradecimentos pelas simpáticas palavras para com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Quanto ao que pergunta, de facto, a Reforma Ortográfica de 1911 não se estendeu ao Brasil, tal como se recorda na cronologia da ortografia da língua portuguesa, elaborada por Ivo Castro e Isabel Leiria, em "As reformas ortográficas: do romantismo à actualidade", artigo incluído em A Demanda da Ortografia Portuguesa (Lisboa, João Sá da Costa, 1987, pp. 204-218).¹ Este aspeto é igualmente realçado por Maria Filomena Gonçalves em As Ideias Ortográficas em Portugal de Madureira Feijó a Gonçalves Viana (1734-1911), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, pp. 753-754. Escreve a autora que: «outro aspeto importa salientar: o facto de o Brasil, o outro condómino da língua (…), não ter sido ouvido. Na verdade, mesmo às vésperas da publicação oficial dos trabalhos da Comissão ouviam-se vozes apreensivas acerca do rumo da questão ortográfica nos dois países»². Assim, apenas em 1931 será aprovada uma primeira tentativa de ortografia unificada e simplificada entre Portugal e Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, a qual, de resto, seguia muito perto as propostas introduzidas pela Reforma Ortográfica de 1911. No entanto, este primeiro acordo ortográfico não viria a vingar.

¹ Nas páginas do sítio da Direção-Geral da Educação (Ministério da Educação e Ciência de Portugal), também se disponibiliza uma cronologia que se refere a esta situação: «1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de u...

Pergunta:

É correto dizer: «mataram a galinha», ou «abateram a galinha»? Ou melhor, os animais «matam-se», ou «abatem-se»?

Grato.

Resposta:

O uso dos dois verbos está correto, dependendo, contudo, do contexto em que ambos ocorrem. De modo geral, diz-se «mataram o animal». No entanto, no contexto da produção de carne em aviários e matadouros, ou no domínio da caça, é usual encontrarmos o verbo abater, na aceção de «tirar a vida a um animal ou a uma pessoa de forma violenta» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa). O Dicionário Houaiss também contempla essa aceção, no entanto observando em nota gramatical que os puristas a consideram galicismo semântico: «tirar a vida de; matar (esp. reses, aves ou peças de caça) [...] Ex.: "abateu a narceja com o primeiro tiro"; "a polícia abateu o marginal".»

Pergunta:

Sempre tenho dúvidas em relação a construções com os verbos assegurar, garantir e certificar, especialmente quando precedidos do verbo dever.

«Deve-se assegurar que os programas são compatíveis», ou «deve-se assegurar que os programas sejam compatíves»?

«Dessa forma, garante-se que isso será feito», ou «garante-se que isso seja feito»?

«Certifique-se de que a avaliação seja feita», ou «de que a avaliação será feita»?

Indicativo, ou subjuntivo?

Obrigada!

Resposta:

Em todas as orações subordinadas completivas selecionadas pelos verbos em questão, é gramatical o uso do modo indicativo. Quanto à possibilidade do subjuntivo (ou conjuntivo), existe alguma variação.

Assim, a respeito de assegurar, Winfried Busse, no Dicionário Sintático de Verbos Portugueses, atesta o uso tanto do modo indicativo como do modo subjuntivo com o verbo assegurar:

«Assegurei-me de que o carro estava em ordem e partiu.»

«Assegurou-se de que ele fizesse o trabalho.»

«Assegurou-se de que não sonhava.»

Este mesmo autor apresenta o verbo garantir precedido pelo verbo modal poder e seguido de oração completiva cujo verbo se encontra no subjuntivo:

«(...) ninguém pode garantir que Moscovo dê o seu aval (...).»

Também o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses¹ apresenta como abonação uma frase de polaridade negativa em que o verbo assegurar tem por complemento uma oração finita com o verbo no modo subjuntivo:

«O escadote não assegurava de que o rapaz não caísse.»²

Finalmente, a respeito de certificar(-se), não se encontram nas fontes consultadas ocorrências de completivas finitas com o verbo no subjuntivo, mas a sinonímia deste com assegurar(-se) sugere que este modo é igualmente aceitável.

Desta forma, ainda que o modo indicativo possa ocorrer com mais frequência nas orações completivas destes três verbos, não podemos descartar contextos em que os mesmos peçam o modo subjuntivo (co...