Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Na frase seguinte: «O menino não ultrapassava os cem centímetros de altura», devo escrever «cem» por extenso, ou posso escrever «100» em algarismos? Existe alguma regra? Como se trata de um texto, tenho dúvidas. [...]

Muito obrigada antecipadamente.

Resposta:

Não parece existir nenhuma regra que obrigue a que as unidades de comprimento sejam expressas numericamente, ainda que esta seja efetivamente a forma mais comum de as representar.

Veja-se, por exemplo, as seguintes ocorrências, extraídas do Diário da República, 2.ª série — N.º 176 — 13 de setembro de 2011:

«Os dispositivos referidos no número anterior não podem ficar colocados a menos de dois metros e dez centímetros de altura do solo, se forem toldos, palas ou sanefas, e a dois metros e cinquenta centímetros se forem suportes publicitários»;

«As alturas referidas na alínea a), quando se trate de palas, toldos ou sanefas, podem ser reduzidas até um metro e noventa centímetros [...]»

Deste modo, creio que a opção por uma ou outra formulação (isto é, através do recurso a números, ou por extenso) dependerá do redator, ainda que, em textos especializados, relacionados com a área da física ou da matemática, por exemplo, se compreenda, como será fácil de ver, que a representação numérica seja a mais comummente utilizada.

Pergunta:

Gostava que me esclarecessem em relação à classificação da oração presente na seguinte frase: «Ora, nos últimos tempos, parece que só tem interesse mediático e insólito o grotesco, o chocante, o lado negativo das pessoas e das coisas.»

Agradeço, desde já, a atenção.

Resposta:

Oração subordinante: «parece»;

Oração subordinada completiva finita: «que só tem interesse mediático e insólito o grotesco, o chocante, o lado negativo das pessoas e das coisas».

Pergunta:

Como são os plurais e femininos de nomes de raças de cães?

Femininos: «uma cadela-d´água-portuguesa», ou será «uma cadela-d´água-português»?

Plurais: «cães-são-bernardo», «rafeiros-alentejanos» (ou será «rafeiros-alentejano»?), «cães-serra-da-estrela», «cães-d´água-português» (ou será «cães-d´água-portugueses»?).

Resposta:

No fundo, estamos aqui a falar de nomes/substantivos.

Assim, as regras deverão ser as mesmas que enquadram a pluralização, neste caso, dos nomes/substantivos compostos.

Deste modo, de acordo, por exemplo, com Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp. 187-189, «quando os termos componentes se ligam por preposição, só o primeiro toma a forma de plural»; «geralmente ambos os elementos tomam a forma de plural quando o composto é constituído por dois substantivos, ou de um substantivo e um adjetivo».

Deste modo, teremos, por exemplo:

1. «São-bernardos» (Dicionário Priberam; Dicionário Houaiss);

2. «Serras-da-estrela»;

3. «Cães-d´água portugueses» ou «cães-de-água portugueses»;

4. «Rafeiros-alentejanos».

Convém, no entanto, precisar o seguinte: com exceção do «são-bernardo», julgo que nenhuma das outras raças elencadas pelo estimado consulente é comummente grafada com hífen, sendo que, no caso dos «rafeiros alentejanos», será ainda de notar que a nomenclatura usada parece frequentemente variar entre a já referida e «rafeiro do Alentejo».

Por outro lado, quando se opta por formulações elípt...

Pergunta:

Será que a expressão Caro/a que hoje é frequentemente usada em e-mails formais entre serviços/lojas e os respectivos clientes é adequada e correcta?

Aprendi que essa expressão era usada apenas entre pessoas que se conhecem e em que há algum grau de proximidade.

Gostaria de ser esclarecida sobre este tema.

Desde já o meu muito obrigada.

Resposta:

Se atentarmos nas definições propostas, por exemplo, pelo Dicionário Priberam ou pelo Dicionário Houaiss — «querido», «estimado», «prezado» —, verificamos que a expressão caro(a) se afigura algo híbrida do ponto de vista do seu grau de formalidade comunicacional. Ora, se querido indicia, de facto, um nível de proximidade compatível com um tipo de relacionamento próprio de comunicações mais íntimas, já prezado, ou até mesmo estimado, apesar de não serem demasiado formais, também não se poderão considerar exatamente informais. Repare-se que prezado, por exemplo, significa, de acordo com o Dicionário Priberam, «ter em grande consideração. = RESPEITAR».

Deste modo, julgo que a forma de tratamento caro/a (ou car@, como agora muito se usa), no contexto sugerido pela cara consulente, é ajustada e pertinente.

Pergunta:

Adjunto-técnico tem feminino, ou é uma palavra apenas usada no masculino?

Qual é a frase correcta: «Louva um adjunto-técnico», ou «Louva uma adjunta-técnica»?

Dúvida que surgiu num texto para revisão de português.

Obrigada.

Resposta:

Em Portugal, o termo mais comummente usado é técnico-adjunto, sendo que existe o feminino técnica-adjunta.

"Adjunto-técnico" ou "adjunta-técnica" (com hífen) não se encontram registados em nenhum dos instrumentos linguísticos de referência consultados (ao contrário do já referido técnico-adjunto, que é acolhido, por exemplo, pelo Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), desenvolvido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). 

Já «adjunto técnico» ou «adjunta técnica» (sem hífen), apesar de pouco comuns, encontram-se esporadicamente utilizados por algumas entidades oficiais.