Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que me leva a entrar em contacto com o Ciberdúvidas é a existência de uma dúvida que assola as pequenas células cinzentas que habitam na minha caixa craniana. Coisa simples, sem importância, mas que mesmo assim me deixa a maturar no assunto em questão. O “caso” é o seguinte:

Existe o termo “portista” para o adepto do Futebol Clube do Porto. Da mesma maneira que existe o termo “sportinguista” para o adepto do Sporting Clube de Portugal, e “benfiquista” para o adepto do Sport Lisboa e Benfica. Continuando o rol de termos e designações no que se refere aos “maluquinhos” (eu incluído) do chuto na bola, temos também o adepto “boavisteiro” para o Boavista Futebol Clube, “nacionalista” para o Nacional da Madeira, etc.

Onde eu quero chegar é ao facto de, por exemplo, “benfiquista” existir no dicionário como sendo a designação de um adepto do SL Benfica, mas nada descobrir sobre o termo “braguista” como sendo um adepto do Sporting Clube de  Braga.

Será que o termo “braguista” existe? Se existe, por que razão não aparece?

Na certeza de que a minha dúvida será desfeita, despeço-me com os melhores cumprimentos.

Resposta:

Segundo a Infopédia, por exemplo, o elemento -ista é um «sufixo nominal, de origem grega, que exprime a ideia de adepto de um sistema político, de uma doutrina religiosa, de um sistema filosófico, de uma tendência artística, ou ainda a ideia de músico ou cantor (franquista, budista, racionalista, naturalista, pianista, cançonetista, fadista)». O Dicionário Houaiss complementa esta descrição, referindo que o afixo em apreço serve «para designar o praticante de uma atividade ou o adepto de um movimento ideológico: oftalmologista, pianista, reformista». Deste modo, e tendo em conta o exposto, não me parece forçado aplicar o mesmo raciocínio, por exemplo, a seguidores de determinadas personalidades (ex.: cavaquistas, soaristas...), ou a adeptos de clubes desportivos (ex.: benfiquistas, sportinguistas, portistas, nacionalistas...), sendo que muitos destes vocábulos se encontram registados, como muito bem refere o prezado consulente, na generalidade dos dicionários de língua portuguesa consultados.

Assim, se o termo benfiquista, por exemplo, resulta de Benfica + -ista, significando ser «relativo ao Sport Lisboa e Benfica ou o que é seu jogador ou adepto» (Priberam), e o vocábulo portista, de Porto + -ista, significa «relativo ao Futebol Clube do Porto ou o que é seu jogador ou adepto» (Priberam), o termo braguista resultaria de Braga + -ista e significaria, com legitimidade creio eu, «relativo ao Sporting Clube de Br...

Pergunta:

Gostaria de saber por que a palavra alil não tem plural.

Mas, se tiver, qual seria? Alis?

O mesmo ocorre para acetil, metil, etc.

Obrigado.

Resposta:

Como se pode ler nesta elucidativa resposta de Edite Prada:

[as] palavras terminadas em -il,

i) se forem agudas, transformam o -l em -s: funil – funis,

ii) se forem graves, transformam o -il em -eis: projéctil – projécteis.

Nos casos em análise, estamos perante palavras agudas, que seriam enquadráveis, portanto, na alínea i). Assim, o plural dos vocábulos sugeridos pelo consulente seria, como o próprio sugere, respectivamente, alis, acetis e metis.

Porém, em parte alguma encontro os referidos termos, provenientes da área da química orgânica, pluralizados da referida forma. Segundo informações que recebi de um investigador do Departamento de Biologia de Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora, o plural dos referidos radicais químicos será, respectivamente, alilos, acetilos e metilos, isto porque, em português europeu, o singular mais comummente usado será alilo, acetilo e metilo.

Pergunta:

O assunto acima referido já foi alvo de tratamento por V. Exas., mas entretanto entrou ou está a entrar em vigor o novo acordo ortográfico e por isso gostaria de relançar a questão: na versão europeia da nossa língua, devemos escrever ioga ou Yoga? Porquê?

No glossário das Ciberdúvidas, continua a classificar-se como erro a forma Yoga, estará esta posição actualizada?

Há quem me diga que ioga é um aportuguesamento de yoga (sânscrito) e não um equivalente em português e que como a letra y entrou para o nosso alfabeto e como tal não haveria razão para a exclusão da forma yoga. Por minha parte, tenho tendência para dizer: se há uma forma aportuguesada, usemo-la!

Agradeço desde já o parecer de V. Exas. sobre este assunto.

Resposta:

A palavra yoga (devendo ler-se ióga) encontra-se registada, por exemplo, na Infopédia, no Priberam e no Dicionário Actual da Língua Portuguesa (Edições ASA), como uma variante ortográfica do vocábulo ioga (podendo ler-se iôga ou ióga). Por outro lado, no Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), disponível no Portal da Língua Portuguesa, e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Porto Editora, yoga encontra-se descrito como um «estrangeirismo do sânscrito — forma adaptada: ioga». Deste modo, as duas formas são aceites no português europeu, encontrando-se ambas registadas, como podemos verificar, nos respectivos instrumentos linguísticos. Já as ferramentas linguísticas do português do Brasil consultadas (Dicionário Houaiss, Dicionário Aurélio, Aulete Digital e VOLP da Academia Brasileira de Letras) acolhem apenas o termo ioga.

No que diz respeito às coordenadas estipuladas pelo acordo ortográfico (AO) em vigor, valerá a pena referir que as novas letras incluídas no alfabeto (k,

Pergunta:

Se a letra l em fim de sílaba representa som semivocálico, por que alguns analisam a palavra caldo como não tendo ditongo? Deus do céu, quem é que não acha que em cal o l não tem som semivocálico se o som é i-dên-ti-co ao u de mau?!

Ajudem-me a entender!

Resposta:

Do ponto de vista fonético, tal como o consulente sugere, as semivogais (ou glides), [j] e [w], «constituem com as vogais que as antecedem ditongos crescentes» (Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, p. 993).

É verdade também o que diz o consulente no que diz respeito à pronúncia do l velar no português do Brasil, em sintonia com as conclusões de Paul Teyssier (História da Língua Portuguesa, São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 67):

«Na pronúncia mais comum, o [ł] velar, que é, em Portugal, a realização de todos os ł em final de sílaba, vocaliza-se em [w]. Escreve-se animal, Brasil, amável, sol e pronuncia-se [animąw], [brasiw], [amávęw], [sɔw]. A distinção entre mal (advérbio) e mau (adjetivo) desaparece.».

Porém, o referido autor acrescenta a esta constatação várias notas importantes, salientando que «somente o extremo sul do país [Brasil] mantém regularmente a antiga distinção [a mesma verificada actualmente no português europeu]»,1 que «em registros muito vulgares dá-se até o desaparecimento puro e simples do antigo l em posição final absoluta: ex.: generá (general), coroné (coronel)» e, finalmente, que «quando fecha sílabas internas, documenta-se, nos mesmos registros, a sua passagem a r; ex.: arto (alto), vorta (

Pergunta:

Em formações diversas sobre o Dicionário Terminológico foram-me facultados alguns documentos. Num deles consta o seguinte exemplo: «O aluno pousou o livro na estante.» Consideram que «na estante» é um modificador. Noutro documento consta o exemplo: «Pousa a chávena na mesa», considerando «na mesa» um complemento oblíquo. A dúvida é se o verbo pousar (em) selecciona um complemento oblíquo.

Resposta:

De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), a função sintáctica modificador é «desempenhada por constituintes não seleccionados por nenhum elemento do grupo sintáctico de que fazem parte. Por não serem seleccionados, a sua omissão geralmente não afecta a gramaticalidade de uma frase. Ex.: A Ana cantou [quando tu chegaste de França]», e o complemento oblíquo é definido como sendo «um complemento seleccionado pelo verbo. Ex.: O João mora [aqui]». Sendo assim, a ausência do complemento oblíquo gera agramaticalidade de enunciados.

Por outro lado, o Dicionário Houaiss apresenta como uma das definições do verbo pousar «colocar [algo] (no chão ou em outro lugar)», apresentando-se justamente como exemplo uma frase muito semelhante às propostas pela consulente: «pousar a jarra (na mesa)». Repare-se que o constituinte «na mesa» surge isolado por parêntesis exactamente pelo facto de a sua presença não ser essencial para manter a gramaticalidade da frase. Deste modo, «na mesa» e «na estante», em total sintonia com a definição transcrita do DT, serão modificadores (verbais) e não complementos oblíquos.

Porém, na Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outros, 2003 (p. 294), considera-se que se chama «relações oblíquas [...] às relações gramaticais que não são centrais». Assim, «têm relações gramaticais oblíquas tanto argumentos obrigatórios» — ex.: «O João pôs o livro [na estante]» — «e opcionais» — ex.: «O Pedr...