Segundo a Infopédia, por exemplo, o elemento -ista é um «sufixo nominal, de origem grega, que exprime a ideia de adepto de um sistema político, de uma doutrina religiosa, de um sistema filosófico, de uma tendência artística, ou ainda a ideia de músico ou cantor (franquista, budista, racionalista, naturalista, pianista, cançonetista, fadista)». O Dicionário Houaiss complementa esta descrição, referindo que o afixo em apreço serve «para designar o praticante de uma atividade ou o adepto de um movimento ideológico: oftalmologista, pianista, reformista». Deste modo, e tendo em conta o exposto, não me parece forçado aplicar o mesmo raciocínio, por exemplo, a seguidores de determinadas personalidades (ex.: cavaquistas, soaristas...), ou a adeptos de clubes desportivos (ex.: benfiquistas, sportinguistas, portistas, nacionalistas...), sendo que muitos destes vocábulos se encontram registados, como muito bem refere o prezado consulente, na generalidade dos dicionários de língua portuguesa consultados.
Assim, se o termo benfiquista, por exemplo, resulta de Benfica + -ista, significando ser «relativo ao Sport Lisboa e Benfica ou o que é seu jogador ou adepto» (Priberam), e o vocábulo portista, de Porto + -ista, significa «relativo ao Futebol Clube do Porto ou o que é seu jogador ou adepto» (Priberam), o termo braguista resultaria de Braga + -ista e significaria, com legitimidade creio eu, «relativo ao Sporting Clube de Braga ou o que é seu jogador ou adepto».
Porém, como mais uma vez o consulente bem nota, nenhum dos instrumentos linguísticos consultados regista a forma braguista, talvez porque também nunca tenha sido esta uma designação em torno da qual tenha surgido grande consenso por parte dos próprios adeptos deste clube minhoto fundado em 1921. Na verdade, nunca me parece ter havido unanimidade, digamos assim, na terminologia a adoptar para caracterizar os seguidores do Sporting Clube de Braga, continuando-se actualmente a oscilar entre expressões como bracarenses, arsenalistas, arcebispos e, eventualmente, braguistas. Aliás, uma breve pesquisa no Google, ou, por exemplo, no corpo CETEMPúblico, corrobora justamente estas conclusões, sendo que os meios de comunicação social optam de forma muito clara por duas delas, isto é, bracarenses e arsenalistas, raramente preferindo as formas arcebispos e braguistas. Será ainda talvez curioso notar que a única ocorrência que surge no corpo CETEMPúblico de braguista nada tem que ver com o clube bracarense, mas, sim, com os seguidores de Braga de Macedo, professor de Economia e ex-ministro das Finanças do XII Governo Constitucional da República Portuguesa.
Analisemos, agora, a pertinência de cada uma das formas referidas: a adequação dos termos bracarenses e arcebispos parece-me evidente, tendo em conta a história da própria cidade minhota. Porém, julgo que fará todo o sentido distinguir os habitantes da cidade de Braga (bracarenses) — ou de outra região qualquer — dos adeptos do Sporting Clube de Braga — ou de qualquer outro clube desportivo —, pois um habitante, por exemplo, da cidade do Porto pode ser adepto do SC Braga, assim como um habitante de Braga pode ser adepto do Benfica, não deixando, como é mais que evidente, de ser bracarense. Será talvez por esse mesmo motivo, e até para ajudar a criar uma identidade própria em torno dos clubes desportivos, que, por exemplo, os adeptos do Futebol Clube do Porto são designados de portistas e não de portuenses (termo reservado aos habitantes da cidade do Porto). A designação «arcebispos», por outro lado, parece-me mais compatível com uma espécie de alcunha caseira do que propriamente com um termo universal que identifique, em qualquer parte do país ou do mundo, os seguidores do clube em apreço. Já o termo arsenalista, cada vez mais utilizado aliás pelos meios de comunicação social portugueses, sendo, por isso, um forte concorrente à definitiva dicionarização para designar os adeptos do SCB1, tem uma história curiosa, contada no próprio sítio oficial do clube inglês Arsenal Football Club: os adeptos do SCB são conhecidos por arsenalistas «Because their then-coach Jozef Szabo was so enamoured by Arsenal during a trip to Highbury, that he decided to adopt the London club's colours».2
Resta-nos, então, braguistas. Como já ficou claro, creio que os mecanismos de formação desta palavra são legítimos, e não vejo razões para que a mesma não possa ou não venha a ser usada, ainda que, actualmente, como já referi, esteja longe de ser a preferida dos meios de comunicação social e dos comentadores desportivos, por exemplo. No entanto, é também visível o esforço que tem vindo a ser feito por muitos adeptos, simpatizantes e internautas, numa tentativa de alcançar a tal identidade própria, para que braguista venha a ser eleito como o termo mais comum e, por fim, possa eventualmente vir a ter a força necessária para ser dicionarizado. Veja-se, por exemplo, a quantidade de blogues e até de vídeos no YouTube que apelam ao uso do termo em análise, assim como a existência da Associação Braguista — para os verdadeiros adeptos do Sp. de Braga.
Enfim, como constatava o narrador do magnífico conto «Palavra mágica», de Vergílio Ferreira, «não [há] que emendar-se a vida pelo dicionário. [Há] que forçar-se o dicionário a meter a vida na pele».
1 Refira-se que esta é uma palavra acolhida pelo Vocabulário Ortográfico do Português.
2 Tradução livre: «Porque o seu então treinador [do Sporting Clube de Braga], Jozef Szabo, ficou tão apaixonado pelo Arsenal [clube inglês] durante uma viagem a Highbury [estádio do Arsenal], que decidiu adoptar as cores do clube londrino.»