Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a frase correta?

«Sem sinais e sintomas cardíacos.»

«Sem sinais ou sintomas cardíacos.»

«Sem sinais e/ou sintomas cardíacos.»

Resposta:

Na primeira formulação, com a utilização da conjunção coordenativa copulativa e, percebemos que não existem sinais nem sintomas cardíacos, sendo que os sinais, a existirem, acarretariam, muito provavelmente, sintomas cardíacos, e vice-versa.

Na segunda, com o recurso à conjunção coordenativa disjuntiva ou, concluímos que não existem sinais nem sintomas cardíacos, ainda que possamos deduzir que, eventualmente, os sinais e os sintomas cardíacos sejam independentes uns dos outros, isto é, o facto de haver sinais não implicaria necessariamente a existência de sintomas cardíacos, e vice-versa.

No terceiro enunciado, com o recurso simultâneo às duas conjunções referidas, verificamos que não existem sinais nem sintomas cardíacos, independentemente de ambos poderem — ou não — estar interligados.

De qualquer forma, do meu ponto de vista, a única frase que não levanta quaisquer tipos de ambiguidades é a terceira, já que a primeira e a segunda, à primeira vista, se podem equivaler.

A este propósito, julgo que será de toda a utilidade ler atentamente esta pergunta/resposta.

Pergunta:



Qual das seguintes frases está correta?

a) Aquele do qual enaltecemos as qualidades e minimizamos os defeitos.

b) Aquele de quem enaltecemos as qualidades e minimizamos os defeitos.

Resposta:

Segundo Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p.349, «na língua contemporânea, quem só se emprega com referência a pessoa ou a alguma coisa personificada: Feliz é quem tiver netos/De quem tu sejas avó [...] A mim quem converteu foi o sofrimento. [...]».

Assim, e partindo do princípio, creio) de que a frase proposta pelo consulente se refere a uma pessoa, julgo que se deverá optar pelo enunciado b).

Refira-se, contudo, que os citados investigadores, p.349, ressalvam o facto de que «o qual é também a forma usada como partitivo após certos indefinidos, numerais e superlativos: O Luís, que cuidava da horta de cima, era pai de uns sete ou oito, alguns dos quais já principiavam a ajudá-lo. [...] Os filhos, quatro crianças, a mais velha das quais teria oito anos, rodeavam-no aos gritos. [...]»

Pergunta:

Existe a palavra indispensabilidade?

Resposta:

A palavra indispensabilidade existe, significando «qualidade do que é indispensável» (Dicionário Houaiss, Priberam).

Pergunta:

Parabéns pelo vosso trabalho!

No Brasil chama-se cortineiro ao responsável que manipula cordas ou dispositivos elétricos, para o movimento das cortinas no teatro. Há um termo equivalente em Portugal?

Resposta:

De acordo com o Glossário de Teatro proposto pela Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE-IPP), do Instituto Politécnico do Porto, ao responsável pela armação, montagem e manobra dum cenário chama-se maquinista (podendo existir igualmente o chefe-maquinista e o auxiliar de maquinista).

Pergunta:

Tenho visto várias pessoas usarem a palavra julgo como sinônimo de julgamento. Nunca imaginei que pudesse ser usada assim, como na frase: «Não quero viver sob o seu julgo» (no sentido de julgamento, segundo a pessoa que o escreveu).

Segundo a mesma, jugo é canga, quando eu entendo que pode significar dominação, portanto, julgamento. Quem está certo?

Resposta:

Nenhum dos instrumentos linguísticos de referência consultados confirma a existência do nome/substantivo julgo.

Na verdade, julgo surge apenas como a 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo julgar e nunca como sinónimo nominal deste.

O vocábulo jugo, de facto, pode significar «peça de madeira usada para atrelar bois a carroça ou arado; canga», sendo que, em sentido figurado, pode alcançar aceções como «sujeição imposta pela força ou autoridade; opressão; vínculo de submissão e obediência, ex.: livrar-se do jugo paterno» (Dicionário Houaiss).

Deste modo, parece-me igualmente forçado entender o nome jugo como sinónimo de julgamento.