Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
Paulo J. S. Barata
35K

Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Antes de mais, parabéns pela excelente ferramenta que é o Ciberdúvidas.

Segundo a gramática, qualquer tipo de produção artística, como é o caso de um álbum de música, deve surgir em itálico.

A minha dúvida é: será correcto, tendo em conta a regra acima descrita, grafar os títulos das canções com aspas, como já tenho visto suceder em alguns sites e revistas de música?

Obrigada.

Resposta:

A identificação de títulos de canções, de pinturas, de esculturas, de obras de arquitectura, de filmes ou de peças de teatro, bem como de livros, de jornais ou de revistas, pode fazer-se recorrendo indiferentemente ao itálico ou às aspas. Com este procedimento, pretende-se apenas salientar esses títulos, quer através do chamado realce ou destaque tipográfico — itálico — quer através de um sinal gráfico — aspas. Ambas as situações são, pois, admissíveis. É, porém, mais comum, o recurso ao itálico para identificar os títulos, reservando-se as aspas, por exemplo, para as citações ou as transcrições. Por esta razão, aconselha-se preferencialmente o uso do itálico para referenciar títulos de canções, de pinturas, de esculturas, de obras de arquitectura, de filmes ou de peças de teatro, bem como de livros, de jornais e de revistas.

Vivemos num quotidiano pejado de siglas e de acrónimos. Porventura pela profusão de organizações, planos, programas, projectos, porventura pela rapidez com que tudo ocorre, porventura também para poupar espaço e/ou evitar as repetições. Não há praticamente jornal, revista, ou até livro, que esteja imune a este fenómeno. E nesse uso vale quase tudo, boas e más práticas: usar apóstrofo para os(as) pluralizar, colocar entre parêntesis a primeira vez que ocorrem ou nem isso, lexicalizá-los(as) de...

Na secção Cartas do semanário Expresso, de 28 de Maio de 2011, uma leitora, escrevendo sobre a crise que se vive Portugal, invoca o recente filme de Roland Joffé,...

E, pronto! Aí está ele, o verbo bitaitar, assim mesmo e sem aspas, utilizado por Ferreira Fernandes, na sua habitual coluna da última página do Diário de Notícias, numa crónica intitulada «Não, não pode, um ponto é tudo!» (12 de Maio de 2011):

«Há uma norma fundamental, não escrita mas que é aceite pelos líderes partidários, que é a de não bitaitar sobre cenários a vir.»

Vasco Graça Moura (VGM) é um polemista de escrita vigorosa e impressiva. Leio-o sempre com gosto, admirando a imagética das crónicas e a intencionalidade da escrita, quantas vezes feita deliberadamente para chocar. O que se torna ainda mais patente quando cruzamos a truculência das suas crónicas, sociais e políticas, com a sensibilidade da sua obra de poeta, tradutor, romancista, ensaísta.