Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
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Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A vossa pergunta/resposta intitulada «"Font" = tipo, carácter, cunho, símbolo» leva-me a apresentar as notas que se seguem, recolhidas de várias fontes oficiosas sobre a matéria e, simultaneamente, perguntar se a informação apresentada estará realmente correcta. Grato pela atenção.

TIPO (DE LETRA) = Conjunto unificado de caracteres (alfabéticos, numerais e marcas de pontuação) cujos desenhos e traçados distintivos [TYPEFACE]) partilham as mesmas características, exibindo propriedades visuais semelhantes e consistentes.

Ex.: Times New Roman

FONTE = Variante de um TIPO (DE LETRA) cujos caracteres têm um determinado estilo (que pode compreender variantes serifadas ou não serifadas), corpo (tamanho) e forma (espessura, largura e inclinação).

Ex.: Times New Roman Bold Italic Corpo 14

O termo FONTE é geralmente confundido com TIPO. Tradicionalmente, em tipografia, uma FONTE refere-se geralmente a um TIPO (ou Família Tipográfica) de um dado tamanho. Um TIPO é um conjunto de desenhos correspondentes aos caracteres específicos de cada linguagem. Compreende os caracteres alfabéticos, numerais, marcas de pontuação e outros ideogramas ou símbolos relativos à linguagem em questão desenhados segundo um conjunto de características ou estilo. A Família Tipográfica compreende as variações do desenho do TIPO em peso, amplitude, orientação ou estilo (p. ex.: Itálico, Negrito, ambos). Tradicionalmente, uma FONTE (do inglês font, ou fount), compreende o conjunto de características que definem a identidade relativas ao seu desenho, abraçando todas as variantes do TIPO e/ou da Família. Assim pode compreender uma série de variantes serifadas e n...

Resposta:

As diferenças que sente na nossa resposta anterior assemelham-se ao que sentimos quando consultamos um dicionário geral e o comparamos com um dicionário especializado. O nível de precisão, e de especialização, não é, nunca, igual. Além disso, quando as nuances entre os termos são mínimas, a linguagem nem sempre, por si só, consegue ser inteiramente esclarecedora, assumindo aí os exemplos um papel crucial. A questão fundamental que coloca prende-se com as diferenças entre os termos fonte (tipográfica) e tipo (de letra) utilizados hoje em dia de forma mais ou menos indiscriminada, mesmo em alguns meios das artes gráficas, para o que involuntariamente contribuíram os programas informáticos de processamento de texto e a própria tipografia digital, em que essa separação não é tão nítida. Ensaiando uma explicação inteligível para todos, e introduzindo aqui também o conceito de família tipográfica, diria que: uma família tipográfica compreende o conjunto de todas as variantes de um tipo de letra, entendendo-se por variante a inclinação (redondo ou itálico), a espessura (fino, normal ou negrito) e a largura (comprimido, condensado ou estendido); o tipo de letra compreende o conjunto de fontes de uma mesma família tipográfica, e a fonte tipográfica é apenas uma variante de um tipo de letra. Pegando no exemplo que deu, o Times New Roman é um

Pergunta:

Gostaria de saber quando se pode colocar e o que significa de facto «no prelo».

Habitualmente coloco esta expressão quando me refiro a um artigo que se encontra para publicação. É correcto?

Obrigada.

Resposta:

A sua interpretação é inteiramente correcta. A expressão «no prelo» significa, na gíria da edição, das artes gráficas, da biblioteconomia e da bibliografia, «em (vias de) publicação» ou «em processo de edição/publicação/impressão». Prelo era o nome dado às primeiras máquinas tipográficas, daí que estar «no prelo» signifique literalmente «que se está a imprimir» ou «estar a imprimir-se», na definição apresentada pelos dicionários gerais. O seu contexto de uso não é, porém, tão literal. A partir do momento em que o autor entrega o seu trabalho ao editor e este aceita publicá-lo, entra em processo de edição, dizendo-se, a partir daí, que está «no prelo». Marca o fim da fase de produção intelectual, da responsabilidade do autor, e o início da fase de produção editorial e oficinal, digamos assim, sobretudo da responsabilidade do editor/impressor.

Na SIC Notícias, passou o documentário intitulado Dividocracia. Esta palavra, um neologismo entrado por via do inglês debtocracy, não está dicionarizada, mas já tem algum lastro de uso, como se constata pelas 40 600 ocorrências da palavra em português reportadas pelo Goog...

Pergunta:

Gostaria de saber qual o uso que vos parece mais adequado numa bibliografia onde se pretende indicar parelhas de instituições ou de organismos responsáveis pela edição de uma obra:

GEPE-ME ou GEPE/ME? [Neste caso, trata-se de um organismo de um determinado ministério]

INE/GEPE-ME ou INE-GEPE/ME? [Neste caso, trata-se de duas instituições distintas que são conjuntamente responsáveis pela mesma publicação]

Com os meus agradecimentos.

Resposta:

Nas bibliografias, há que distinguir entre o uso de abreviaturas na entrada e o uso de abreviaturas no corpo da referência. Na entrada, o uso de abreviaturas em nomes de instituições é desaconselhável e apenas se verifica em casos excepcionais, designadamente, quando a notoriedade das mesmas se sobrepõe às respectivas designações, como acontece, por exemplo, com a OCDE, em que a instituição é mais conhecida pela sigla do que pelo nome.

Relativamente aos exemplos que apresenta:

No caso do GEPE-ME ou GEPE/ME, existe uma relação de subordinação entre os dois organismos, já que o GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação) depende do ME (Ministério da Educação). Nesse caso:

— a entrada seria: PORTUGAL. Ministério da Educação. Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação;
— no corpo da referência, quando se mencionasse o editor, e porque já referido na entrada, colocar-se-ia apenas o acrónimo GEPE. Não GEPE-ME e menos ainda GEPE/ME. O uso do hífen só é admissível quando ele faz parte do nome da instituição. Por exemplo, no caso da Secretaria-Geral do Ministério da Educação, em que a abreviatura seria SG-ME. A barra oblíqua nunca é utilizada;

 

Quanto ao INE/GEPE-ME ou INE-GEPE/ME, não existe qualquer relação de subordinação entre as duas entidades, ou seja, entre o Instituto Nacional de Estatística e o Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação, tratando-se, pois, de autores e presumivelmente editores autónomos. Nesse caso:

— a entrada seria: PORTUGAL. Instituto Nacional de Estatística; PORTUGAL. Ministério da Educação. Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação;
— no corpo da referência, quando se ...

Já antes, a leitura do semanário Expresso me havia chamado a atenção para o uso da palavra bloguer:

«Ouvimos um painel de especialistas internacionais e de blogueres nacionais […]» (Revista Única, de 25 de Junho de 2011, p. 56).

Uma semana depois, o o caso repetiu-se, agora no singular:

«Palavras só comparadas com a violência usada pelo bloguer para falar de Sócrates» (Primeiro Caderno, de 2 de Julho de 2011, p. 11).