Nuno Carvalho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Nuno Carvalho
Nuno Carvalho
14K

Investigador do ILTEC; foi leitor de Português na Universidade de Oxford (2001-2003).

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Escreve-se «Estudos Farmacoepidemiológicos», ou «Estudos Farmaco-epidemiológicos»?

Resposta:

Segundo o Vocabulário Resumido da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa, Imprensa Nacional, 1970), «nos compostos de elementos de origem substantiva derivados do grego ou do latim, como ápico, electro, físio, gastro (...), termo, etc., não se emprega o hífen».

Assim, sendo farmaco- um elemento de origem grega de natureza substantiva, não deve usar-se o hífen. Escrever-se-á, por isso farmacoepidemiológico

Pergunta:

Gostaria de saber quais são os graus aumentativos e diminutivos das palavras calça e calção.

Obrigada.

Resposta:

O aumentativo de calça(s) é calçona(s), o diminutivo é calcinha(s) (palavra que acaba por ser pouco utilizada com esta acepção por significar também peça de vestuário interior feminino) ou calcita(s).

O aumentativo de calção será calçãozão, de calções, calçõezões. O diminutivo de calção pode ser calçãozinho ou calçãozito, e de calções, calçõezinhos ou calçõezitos.

Pergunta:

Observei a transformação do discurso directo para indirecto e deparei-me com uma dúvida. Como se transforma a fala seguinte (retirada de Falar Verdade a Mentir, de Almeida Garrett): «Amália — Estes senhores querem tratar dos seus negócios... Meu pai dá licença, eu retiro-me»?

Transforma-se:

«Amália diz que aqueles senhores queriam tratar dos seus negócios e pede ao seu pai que dê licença, que ela se retirava»,

ou «Amália diz que aqueles senhores queriam tratar dos seus negócios e pede ao seu pai que desse licença, que ela se retirava»?

Inicialmente estava a primeira forma, mas fizeram a correcção para a segunda. Fiquei sem saber qual é a correcta (e como se processa isso) ou se existe outra forma que esteja realmente correcta.

Agradeço desde já a atenção.

Resposta:

A dúvida da consulente é entre:

«(Amália) pede a seu pai que dê licença» ou «(Amália) pede a seu pai que desse licença».

Estamos perante uma frase composta por um verbo (pedir) que introduz uma oração subordinada completiva («que dê licença» ou «que desse licença»). Neste tipo de frases, o tempo do verbo da oração subordinada depende do tempo do verbo da frase matriz. Assim, na frase em causa, se o tempo usado no verbo da frase matriz for o presente do indicativo — pede (como é nas duas frases alternativas que a consulente apresenta), o tempo do verbo da frase subordinada deverá ser o presente do conjuntivo . Usar-se-ia o imperfeito do conjuntivo — desse —, se o verbo da frase matriz estivesse no pretérito perfeito — pediu. Desta forma, estarão correctas as frases:

«(Amália) pede ao (seu) pai que dê licença.»

«(Amália) pediu ao (seu) pai que desse licença»

Passemos agora a algumas considerações sobre a passagem do discurso directo para discurso indirecto: para fazer este tipo de transformação, começamos por usar verbos que introduzem o discurso indirecto (dizer, pedir, perguntar, contar, etc.). Estes verbos usam-se normalmente no pretérito perfeito e introduzem orações subordinadas. Os verbos na oração subordinada deverão ter em conta o tempo do verbo da frase matriz, bem como o tempo dos verbos no discurso directo.

Assim, partindo da frase em discurso directo que o consulente apresenta, obtemos a seguinte frase em discurso indirecto:

«Am...

Pergunta:

Estou a traduzir a seguinte frase e tenho alguns problemas:

«A mulher tinha os olhos negros, era loura e seca, magra como um pé de milho já pendoado.»

Não consigo encontrar o significado de pé de milho e também não da palavra "pendoado".

Se me puderem dar uma ajudinha, ficava muito agradecida.

Muito obrigada.

Resposta:

Um pé de milho é uma planta de milho. Um milheiral é composto por muitos pés de milho. Pendoado significa «que tem pendão, a flor masculina do milho». O milho é uma planta monóica, ou seja, é uma planta que tem flores masculinas e femininas. O pendão, ou bandeira, é a sua flor masculina, aquela que aparece no cimo da planta. Assim, posto de forma simples, dizer «um pé de milho já pendoado» será equivalente a dizer «um exemplar da planta de milho já com flor».

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra táctica foi alterada pelo acordo ortográfico e passou a escrever-se "tática".

Obrigada.

Resposta:

Segundo a Base IV (das sequências consonânticas) do Acordo Ortográfico de 1991, que se encontra nesta altura em fase de discussão:

«O c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam.

Assim:

a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto.

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo.

c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carate­res, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção.»

A palavras táctica inscreve-se claramente nos casos previstos na alínea b), pelo que, se o Acordo vier a ser aprovado, passará a ser escrita sem o c: tática.