Nuno Carvalho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Nuno Carvalho
Nuno Carvalho
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Investigador do ILTEC; foi leitor de Português na Universidade de Oxford (2001-2003).

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Agradeço esta resposta, porém, se me permitem, gostaria de discordar da resposta dada. Na formulação original está faltando o verbo possuir ou ter. Se o acrescentarmos, fica assim:

«Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador, complementando com uma das opções 1, 2 ou 3.» Já se nota que não é tão óbvio que «complementando» se aplique simultaneamente a A e B.

Segundo o Celso Cunha, Nova Gramática, 3.ª ed., pág. 480: «Colocado depois da oração principal, o gerúndio indica uma ação posterior e equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e

Aplicando-se a regra, a oração ficaria assim: «Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador e possuir um dos complementos dados nas opções 1, 2 ou 3.» No mínimo, o que se pode dizer é que a oração tem sentido dúbio, se não quisermos afirmar que os complementos 1, 2 ou 3 se referem tão-somente a «possuir curso de oficial aviador». Esta última interpretação, em função conjunção e, atrativa, parece mais plausível.

Além do mais, a redação original tinha a estrutura «A ou B e as opções 1, 2 ou 3». Esta também era uma construção dúbia, no mínimo, se não quisermos admitir que as opções 1, 2 ou 3 só se aplicariam a B, também graças à atratividade da conjunção e.

Gostaria que tecessem comentário sobre as duas construções. Realmente, o gerúndio deveria ser demitido, como fez o governador do DF. Concordam?

Resposta:

Antes de mais, gostaria de esclarecer que na resposta anterior não se diz, em nenhum momento, que «complementando se aplique simultaneamente a A e B». Antes, é dito que complementando se aplica alternativamente a A ou B. É uma diferença fundamental.

Repare-se que a resposta anterior começa com:

«Numa construção como "A ou B, complementando com C", C pode ser complemento de A ou de B, e não apenas de B.»

Isto que dizer que concordo com o consulente quando diz que «o que se pode dizer é que a oração tem sentido dúbio».

Concordo também quando diz, citando a gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra, que «o gerúndio (..) equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e». Devo dizer, aliás, que este facto ajuda à minha tese de que na frase «A ou B, complementando com C», a oração «complementando com C» se pode aplicar a qualquer uma das partes da disjunção: A ou B. Isto porque permite que usemos linguagem lógica. E, usando a linguagem lógica, a frase que o consulente apresenta pode traduzir-se por:
 
(a V b) Λ c
 
o que, aplicando a propriedade distributiva da conjunção lógica em relação à disjunção lógica, será o mesmo que ter:

(a Λ c) V (b Λ c)

ou seja, o equivalente à resposta que dei em primeira instância e que agora transcrevo:

«Assim, na frase «Curso de graduação de nível superior concluído em qualquer área de formação ou curso de formação de Oficiais Aviadores, complementando com uma das opções a seguir», o pré-requisito é:

— curso de graduação de nível superior concluído em qualquer área de formação, complementando com uma das opções a seguir;

...

Pergunta:

Como é que se escreve o plural de Fig.? Já tenho visto "Figs.", "Fig.s", e mesmo "Fig."

Resposta:

Ao contrário das siglas, as abreviaturas podem ter plural. O plural de fig., abreviatura de figura, é figs. A este propósito, veja-se, por exemplo, o Código de Redacção Interinstitucional da União Europeia.

 

Pergunta:

Em Trás-os-Montes, falam em cavalos tupinos; gostaria de saber o significado de tupino.

Resposta:

Os dicionários e as enciclopédias em português que tive oportunidade de consultar não fazem qualquer referência à palavra "tupino". No entanto, consultando o Diccionario de la Lengua Española da Real Academia Española – vigésima segunda edición, temos a seguinte entrada:

«topino 1. adj. Dicho de una caballería: Que tiene cortas las cuartillas y pisa, por tanto, con la parte anterior del casco.»

que significa algo como:

«adj. Diz-se dos cavalos: que tem as quartelas curtas e, por isso, apoia a pata com a parte anterior do casco.»

Não me parece abusivo supor que em Trás-os-Montes usem esta palavra com o mesmo significado.

Pergunta:

Mesmo sendo químico, valorizo muito o português escrito e falado, por isto preciso tirar a seguinte dúvida:

Quando se compõe palavras cujo h fica dentro da palavra composta, ele deve ser mantido ou eliminado?

Por exemplo: tem o termo químico hexano e também o prefixo ciclo. A palavra "cicloexano" deve ser escrita sem h ("cicloexano") ou com h ("ciclohexano")?

Por exemplo: tem o termo químico halogênio. Quando se retira um halogênio de um produto orgânico, dizemos que ocorreu uma "desalogenação" ou uma "deshalogenação", ou "dealogenação" ou uma "dehalogenação"?

Qual é a regra culta?

Para palavras não da química, a regra culta é clara: o h desaparece.

Por exemplo: honradesonra; honestodesonesto.

Mas não sei se é aplicável para termos químicos. Certo de seus comentários, agradeço antecipadamente.

Resposta:

Sobre a utilzação do h no interior da palavra, o Formulário Ortográfico de 1943, oficial no Brasil, diz o seguinte:

«No interior do vocábulo, só se emprega em dois casos: quando faz parte do ch, do lh e do nh, que representam fonemas palatais, e nos compostos em que o segundo elemento, com h inicial etimológico, se une ao primeiro por meio de hífen: anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano, etc.
Observação – Nos compostos sem hífen, elimina-se o h do segundo elemento: anarmônico, biebdomadário, coonestar, desarmonia, exausto, inabilitar, lobisomem, reaver, etc.»

Assim, e tendo em conta que se trata de dois sufixos que permitem a não utilização do hífen, deverá suprimir o h das palavras que apresenta quando lhes junta os sufixos des- e ciclo-. Refira-se, aliás, que o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa regista a entrada cicloexano.

Pergunta:

Quero saber qual a diferença do uso de «de frente para» e «em frente a».

Obrigada.

Resposta:

«De frente para» designa que algo tem a sua parte da frente virada na direcção de outra coisa. Mas, se dissermos «em frente a», significa que algo está diante de outra coisa.

Se disser «A minha casa é em frente aos correios», estarei a dizer que a frente dos correios dá para a minha casa; se disser «A minha casa fica de frente para os correios», estarei a dizer que a frente da minha casa dá para os correios.