DÚVIDAS

Ainda «A ou B, complementando com C»

Agradeço esta resposta, porém, se me permitem, gostaria de discordar da resposta dada. Na formulação original está faltando o verbo possuir ou ter. Se o acrescentarmos, fica assim:

«Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador, complementando com uma das opções 1, 2 ou 3.» Já se nota que não é tão óbvio que «complementando» se aplique simultaneamente a A e B.

Segundo o Celso Cunha, Nova Gramática, 3.ª ed., pág. 480: «Colocado depois da oração principal, o gerúndio indica uma ação posterior e equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e

Aplicando-se a regra, a oração ficaria assim: «Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador e possuir um dos complementos dados nas opções 1, 2 ou 3.» No mínimo, o que se pode dizer é que a oração tem sentido dúbio, se não quisermos afirmar que os complementos 1, 2 ou 3 se referem tão-somente a «possuir curso de oficial aviador». Esta última interpretação, em função conjunção e, atrativa, parece mais plausível.

Além do mais, a redação original tinha a estrutura «A ou B e as opções 1, 2 ou 3». Esta também era uma construção dúbia, no mínimo, se não quisermos admitir que as opções 1, 2 ou 3 só se aplicariam a B, também graças à atratividade da conjunção e.

Gostaria que tecessem comentário sobre as duas construções. Realmente, o gerúndio deveria ser demitido, como fez o governador do DF. Concordam?

Resposta

Antes de mais, gostaria de esclarecer que na resposta anterior não se diz, em nenhum momento, que «complementando se aplique simultaneamente a A e B». Antes, é dito que complementando se aplica alternativamente a A ou B. É uma diferença fundamental.

Repare-se que a resposta anterior começa com:

«Numa construção como "A ou B, complementando com C", C pode ser complemento de A ou de B, e não apenas de B.»

Isto que dizer que concordo com o consulente quando diz que «o que se pode dizer é que a oração tem sentido dúbio».

Concordo também quando diz, citando a gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra, que «o gerúndio (..) equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e». Devo dizer, aliás, que este facto ajuda à minha tese de que na frase «A ou B, complementando com C», a oração «complementando com C» se pode aplicar a qualquer uma das partes da disjunção: A ou B. Isto porque permite que usemos linguagem lógica. E, usando a linguagem lógica, a frase que o consulente apresenta pode traduzir-se por:
 
(a V b) Λ c
 
o que, aplicando a propriedade distributiva da conjunção lógica em relação à disjunção lógica, será o mesmo que ter:

(a Λ c) V (b Λ c)

ou seja, o equivalente à resposta que dei em primeira instância e que agora transcrevo:

«Assim, na frase «Curso de graduação de nível superior concluído em qualquer área de formação ou curso de formação de Oficiais Aviadores, complementando com uma das opções a seguir», o pré-requisito é:

— curso de graduação de nível superior concluído em qualquer área de formação, complementando com uma das opções a seguir;

ou

— curso de formação de Oficiais Aviadores, complementando com uma das opções a seguir.»

Saliento o uso da disjunção ou nos dois casos, que em caso algum poderá querer dizer simultaneamente.

Passando agora às perguntas que nos apresenta desta vez, devo dizer que, a meu ver, o facto de a frase ser constituída pelo verbo possuir não altera nada no que diz respeito à sua interpretação. Discordo, pois, que na frase que nos apresenta:

«Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador, complementando com uma das opções 1, 2 ou 3»

seja mais plausível a interpretação segundo a qual «os complementos 1, 2 ou 3 se referem tão-somente a possuir curso de oficial aviador».

Por fim, a estrutura «A ou B e as opções 1, 2 ou 3», presente na frase «Possuir curso de graduação em qualquer área de formação ou possuir curso de oficial aviador e possuir um dos complementos dados nas opções 1, 2 ou 3», é, de facto, dúbia: as opções 1, 2 ou 3 (e, de novo, não as três opções simultaneamente, mas estas opções vistas como alternativas) podem aplicar-se a A ou a B, não apenas a B.

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