Miguel Moiteiro Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Miguel Moiteiro Marques
Miguel Moiteiro Marques
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) pela Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e mestrando em Língua e Cultura Portuguesa na mesma faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Com relação a documentos administrativos (memorando, ofício, etc.), devo escrever a data do dia primeiro do mês com o numeral e o sobrescrito/elevado? Exemplos:

«[...] Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá de 01º a 05 de março de 2012; Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá no dia 01º/03/12; Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá no dia primeiro de março de 2012.»

Resposta:

Nos exemplos que o consulente apresenta, não se trata do ordinal primeiro, representado como 1.º, com o número seguido de ponto abreviativo — para assinalar a abreviatura — e de º (sobrescrito). As datas que refere leem-se «que acontecerá de um a cinco de março (ou do três)» e «que acontecerá no dia um de março (ou do três) de dois mil e doze». Por isso, deve escrever:

«[...] Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá de 01 a 05 de março de 2012; Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá no dia 01/03/12; Encontro Regional de Direito Constitucional, que acontecerá no dia primeiro de março de 2012.»

Pergunta:

Qual é a origem do topónimo Avelã e do antropónimo Fafes? Passo a citar o seguinte trecho de A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós:

«Embarcou para França com a mulher, a Sra. D. Angelina Fafes (da tão falada casa dos Fafes da Avelã); [...]»

Resposta:

O antropónimo Fafes terá origem no topónimo Fafe, cidade do distrito de Braga, caso de formação idêntico ao de outros antropónimos (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Quanto à origem de Fafe, José Pedro Machado considera que, ao contrário de outras propostas de explicação, o nome não vem do árabe Falafe (o topónimo no concelho de Tavira será, por isso, uma «transplantação do nortenho»). Em vez disso, poderá ter origem no genitivo Fafi do antropónimo Fafus, o qual terá raiz germânica.

Quanto a Avelã, a forma mais comum é Avelãs. Trata-se de um topónimo formado a partir do plural do nome do fruto avelã, já utilizado no latim na forma do plural (Auelanas) para designar nomes de localidades e de cursos de água. É um topónimo ainda atual, como é o caso das aldeias de Avelãs da Ribeira, no concelho da Guarda, ou de Avelãs de Cima, no concelho da Anadia.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado do meu nome (Luciana) e a sua origem.

Resposta:

De acordo com o Dicionário de Nomes Próprios, de Orlando Neves, Luciana poderá ter duas origens: 1) o termo latino lux, que significa «luz»; 2) o gentílico de Lucas, caso em que significará «alguém proveniente de uma localidade chamada Lucas». Em qualquer um dos casos, ao radical da palavra acrescentou-se o sufixo -ano (ou -iano em alguns casos), o qual marca adjetivos por vezes substantiváveis, como presbiteriano, e marca também gentílicos e toponímicos, como boliviano.

Versão diferente é apresentada por José Pedro Machado no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, onde é referido que Luciano tem origem no termo Lukianós, o qual seria a versão grega do cognome romano Lucianus, derivado do prenome latino Lucius, o qual estaria relacionado com lux (luz).

De todo o modo, o denominador comum nas duas explicações é a palavra latina lux (luz), a qual estará na base do nome Luciana.

Pergunta:

Agradecia o esclarecimento pertinente sobre esta dúvida:

«Transformar numa outra pessoa.» Determinante indefinido (DI) ou/e demonstrativo (DD)?

DD

«Uma outra» ou «numa outra» indica a qualidade (posição) de um ser em relação a outro: já não é este, é diferente deste.

DI

Um demonstrativo expressa localização no espaço e no tempo. Não é o que acontece nesta frase.

Resposta:

Estamos perante o artigo indefinido uma e o determinante indefinido outra. Como refere o consulente, os determinantes demonstrativos têm «um valor deítico ou anafórico» (Dicionário Terminológico), ou seja, estabelecem ligação com a situação, o contexto ou com outros elementos (interlocutores, objetos), como nas seguintes frases:

1) «Este barco é maior do que aquele» (valor deítico, referindo-se a algo presente no contexto).

2) «O João tem o colesterol mais alto do que o Carlos, embora este seja mais novo» (valor anafórico, recuperando algo dito antes na frase).

Quando o consulente diz que o outro «já não é este, é diferente deste» como forma de parafrasear o enunciado «transformar numa outra pessoa», está, se me permite o gracejo, a fazer batota, visto que o determinante demonstrativo este que utilizou tem um valor deítico que não está presente na frase original.

Por outro lado, ao referir que «”uma outra" ou "numa outra" indica a qualidade (posição) de um ser em relação a outro», também encontramos este tipo de relação noutras situações em que não usamos determinantes demonstrativos e onde não há valor deítico ou anafórico. Por exemplo:

3) «O João passou de empregado de balcão a gerente.»

4) «Depois do casamento, o João passou a ser o cunhado mais novo do Carlos.»

5) «Depois de ser eleito, ele transformou-se numa outra pessoa.»

O tipo de relação que os determinantes demonstrativos estabelecem (a dêixis ou díxis) diz respeito à situação, ao contexto e aos interlocutores da enunciação. ...

Pergunta:

O ato de oficializar designa-se oficialização. O ato de oficiar designa-se como?

Resposta:

Seguindo o paralelo proposto pelo consulente, o ato de oficiar será o ofício.

O verbo oficiar apresenta dois sentidos: celebrar um ofício divino (missa); dirigir um ofício (comunicação) (Dicionário Houaiss). Assim, ofício pode ser entendido como uma comunicação que segue determinadas regras («O diretor oficiou a situação aos seus superiores»/«Um ofício sobre a situação foi enviado pelo diretor aos seus superiores»), ou pode ser a missa ou uma celebração religiosa («O novo padre oficiou a missa»/«O ofício foi celebrado pelo novo padre»).