Miguel Moiteiro Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Miguel Moiteiro Marques
Miguel Moiteiro Marques
15K

Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) pela Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e mestrando em Língua e Cultura Portuguesa na mesma faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Caros consultores, as vogais isoladas e e o têm sempre pronúncia aberta: é, ó? Assim, por exemplo: pronuncio vitamina ê, ou é?

Resposta:

Como refere, as vogais e e o, quando isoladas e consideradas como letras do alfabeto, como é o caso quando identificam, por exemplo, vitaminas, são vogais abertas, lendo-se "é" ([ɛ]) e "ó" ([ɔ]), tanto no português europeu (Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), como no português brasileiro (Dicionário Michaelis).

Pergunta:

É correto escrever num curriculum «Integrei a equipe de arquitetos da empresa xx, participando de vários projetos»? Dúvida: há necessidade de crase no «Integrei à equipe...»?

Resposta:

No português do Brasil (PB), é correto o recurso à preposição a para construir a regência do verbo integrar de modo a indicar uma ação ou um processo, significando «assimilar, incorporar, fazer entrar num conjunto enquanto parte integrante», o que resulta em frases com crase como «O decorador integrou uma cadeira colonial à decoração da sala» (Francisco da Silva Borba, Dicionário Gramatical de Verbos). Em português europeu (PE), a mesma frase teria a preposição em: «O decorador integrou uma cadeira colonial na decoração da sala.»

Contudo, o sentido da frase apresentada pela consulente vai mais ao encontro de «ser parte de, fazer parte de», caso em que, refere Silva Borba, o verbo indica um estado, pelo que não ocorre a preposição a, não havendo, assim, lugar para a crase. Deste modo, é correto, tanto em PB, como em PE, escrever num curriculum vitae «Integrei a equipe/equipa de arquitetos da empresa x, participando em vários projetos».

Nota – No PB, o verbo participar admite a preposição de para significar «tomar parte em», mas em PE é considerado um erro e deve ser usada a preposição em: «Participei no passatempo». Contudo, admite-se essa preposição em frases com outros sentidos, como «fazer queixa»: «Participei de ti à polícia.»

Pergunta:

Gostaria de saber a etimologia das palavras representar, representação e dramaturgia, assim como o significado da palavra performatividade.

Resposta:

A palavra dramaturgia provém do grego dramatourgía,as e significava «composição ou representação de uma peça de teatro». Entrou na língua portuguesa através do francês com o sentido atual de «arte de compor peças de teatro».

As palavras representar e representação, que remetem também, mas não só, para o universo do teatro, vêm do latim, respetivamente do verbo representare («apresentar, estar presente, comparecer») e do nome repraesentat(i)o,ónis («pagamento com dinheiro à vista»).

A palavra performatividade, embora não esteja atestada no Vocabulário Ortográfico do Português (quer no da Academia Brasileira de Letras, quer no do Portal da Língua Portuguesa), faz parte do léxico das artes performativas, ou seja, artes que implicam um ação [corporal] do artista, normalmente num palco defronte de um público, como o teatro, a dança, o circo, chamadas também de artes cênicas (PB) ou cénicas (PE) por se desenvolverem habitualmente numa cena, ou seja, num palco. Há registo de ocorrências deste termo no Corpus CetemPúblico (notícias do jornal português Público), mas não há registo de ocorrências no Corpus CetenFolha (notícias do jornal brasileiro Folha de S. Paulo), nem no

Pergunta:

Gostaria de saber se existe a palavra enterramento e se ela é o mesmo que enterro e qual dos dois títulos é o mais correcto: «Enterramento: Lotes», ou «Enterro: Lotes»?

Também gostaria de saber se o título «Sepultamento: Jazigos» está correcto.

Resposta:

A palavra enterramento está atestada no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, como sinónimo de enterro e de inumação. Contudo, segundo os resultados da ocorrência de enterramento e de enterro no Corpus CETEMPúblico e Corpus CETEMFolha (Corpus de Extratos de Textos Eletrónicos dos jornais Público e Folha de S. Paulo), não parece existir uma total equivalência entre os dois termos. A palavra enterramento tem apenas uma ocorrência no corpus brasileiro, enquanto no corpus português é utilizada, quase sempre, em contextos técnicos que não estão relacionados com a inumação (enterro de restos mortais humanos), como na seguinte frase:

1) «Os técnicos concluíram que a proximidade entre o local do enterramento e o lençol de água era "de molde a causar preocupações", afirmou o vereador Eduardo Maximino.»

Por sua vez, a palavra enterro é utilizada de forma quase exclusiva para referir o ato de sepultar cadáveres. Assim, parece ser mais adequado utilizar o título «Enterro: Lotes» para se referir à inumação de restos mortais em lotes num cemitério.

Quanto a sepultamento, também está atestado no Grande Dicionário da Língua Portuguesa como o «ato de sepultar» e ocorre nos corpora acima referidos como sinónimo de enterro, embora com menos frequência.

Depreendemos da questão que apresentou que a consulente pretende apurar qual o termo mais correto para referir a deposição dos restos m...

Pergunta:

Como designar alguém que torce pelo Petro de Luanda?

Resposta:

Não encontrámos uma referência específica ao adepto ou torcedor do Petro de Luanda, ao contrário do que acontece com outros clubes como, por exemplo, o Vitória de Setúbal (vitorianos), o Gil Vicente (gilistas) ou o Paços de Ferreira (pacenses), cuja designação serve também para referir os próprios jogadores (a par de outros, relacionados com a naturalidade do clube ou as cores do equipamento principal).

Poderá ser uma questão de tempo até surgir uma designação comum usada pelos falantes ou pela comunicação social para referir os adeptos ou torcedores do Petro de Luanda ou poderá nunca vir a surgir um termo, como acontece com outros clubes, cujos apoiantes são designados de «adepto de» ou «torcedor de».

N. E. – Refira-se que num artigo de 4/11/2013 do sítio Recanto das Letras se apresenta uma lista dos nomes por que são conhecidos os adeptos de alguns clubes de Angola. Segundo essa fonte, os do Petro de Luanda são os «petrolíferos» ou «tricolores».