Miguel Moiteiro Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Miguel Moiteiro Marques
Miguel Moiteiro Marques
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) pela Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e mestrando em Língua e Cultura Portuguesa na mesma faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O Dicionário Terminológico distingue os nomes coletivos em contáveis e não contáveis, mas indica apenas como exemplo para os não contáveis fauna e flora. Rapaziada pode considerar-se não contável?

Resposta:

De acordo com o Dicionário Terminológico, os nomes não contáveis são aqueles «em que não é possível distinguir partes singulares de partes plurais», razão pela qual «estes nomes não ocorrem, tipicamente, em construções de enumeração, nem coocorrem com alguns quantificadores e determinantes».

Parece ser agramatical dizer «Entraram duas rapaziadas e depois mais três rapaziadas», assim como «Todas as rapaziadas da escola participaram no jogo». E se pensar numa frase como «Certas rapaziadas gostam de futebol», a qual também me parece ser incorreta, a sua eventual admissibilidade dever-se-á ao facto de a construção do plural estar a servir para fazer uma oposição qualitativa, isto é, para indicar a existência de uma "tipologia" de rapaziada.

Por isso, rapaziada deverá ser considerar-se como nome coletivo não contável.

Pergunta:

Na frase «O sucesso do turismo beneficia todos», qual a formulação correta do verbo beneficiar: como escrevi, ou com o verbo precedido pela preposição a («O sucesso do turismo beneficia a todos»)?

Resposta:

Segundo as regras de regência indicadas pelo Dicionário Gramatical de Verbos, de Francisco da Silva Borba, a formulação apresentada pela consulente está correta: o verbo beneficiar não se constrói com a preposição a. Assim, será de esperar que a forma correta da frase seja «O sucesso do turismo beneficia todos».

Contudo, a forma «O sucesso do turismo beneficia a todos» soa gramatical. Aquilo que acontece é que este é um dos casos em que o complemento direto é introduzido pela preposição a, nomeadamente quando o complemento direto é um dos pronomes indefinidos seguintes: um, outro, tanto, quanto, todo, ninguém.

Pergunta:

— Gostarias de sair comigo hoje?

— Por que não?

Nesta situação, o «por que» escreve-se separado, ou junto?

Resposta:

Sendo a consulente falante de português europeu, deverá escrever porque, visto tratar-se de um advérbio interrogativo. A frase deverá ficar: «Porque não?»

Para tornar mais clara a opção pelo advérbio interrogativo, vamos tentar construir novas frases usando por que e porque e tendo por base as frases que a consulente apresentou.

Respostas a «Gostarias de sair comigo hoje?»:

— Com por que:

    1) preposição por e pronome relativo que

        «Não é óbvia a razão por que não vou?»

    2) preposição por e pronome interrogativo que

        «Por que razão não hei de ir contigo?»

(Repare como esta frase com o pronome interrogativo pode alternar com a frase com o advérbio interrogativo)

    3) preposição por e pronome interrogativo que

       «Por que esperas? Vamos!»

(Atente que a regência do verbo

Pergunta:

Quero saber como se escreve short (bermuda curta) em português e por favor indiquem a fonte.

Resposta:

A peça de vestuário bermudas, que também pode ser grafada bermuda, vem da locução inglesa bermudas shorts, referindo-se a «calções até aos joelhos feitos de calças velhas» (Dicionário Houaiss, 1.ª edição, 2009). É a partir deste termo que, no Brasil, surgiu a palavra bermudinha (alguns exemplos podem ser apreciados aqui) para designar uma versão mais curta de bermudas (ou bermuda curta, como refere a consulente), peça de vestuário que, em Portugal, tem sido designada como calções.

O Dicionário Houaiss atesta a forma bermudões (aumentativo de bermudas) para designar «bermudas grandes e folgadas», pelo que usar o diminutivo bermudinha ou bermudinhas para referir «bermudas pequenas ou curtas» não parece ser polémico, ainda que este termo não seja atestado por nenhum vocabulário consultado.

Ainda de acordo com o Dicionário Houaiss, a consulente poderá usar também calção ou calções, termo que, tanto no Brasil como em Portugal, designa «calça de bocas mais ou menos largas, cujo comprimento atinge, em média, o meio das coxas». Contudo, como ressalva o próprio Dicionário Houaiss, «calções são usados informalme...

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem acerca de uma dúvida relacionada com a regências do verbo insistir.

Exemplo:

1 – «Alguns insistiam que eu começasse a abrir os presentes.»

2 – «Alguns insistiam para que eu começasse a abrir os presentes.»

Qual dos exemplos é o correcto?

Consultei o Dicionário dos Verbos Portugueses, da Porto Editora, mas só refere o seguinte: «insistir – insistir em: inserir-se num contexto moral.»

Resposta:

O Dicionário Gramatical de Verbos, de Francisco da Silva Borba, indica que se constrói o verbo insistir com sujeito agente e com complemento, apagável , das seguintes formas:

em + nome abstrato/oração conjuncional/infinitiva

   «Alguns insistiam [comigo] em que eu começasse a abrir os presentes.»

para + oração conjuncional/infinitiva

   «Alguns insistiam [comigo] para que eu começasse a abrir os presentes.»

por + nome/oração infinitiva ou oração em discurso direto

   «Eu não insisti por abrir os presentes mais tarde.»