Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se o critério utilizado para "pôr-do-sol" se aplica a nascer do Sol. Se não, porquê? Na minha lógica, a acção de pôr ou nascer do Sol (astro) não devia ter hífen, (exemplo: o jantar de família /o cantar do galo). No entanto, encontro em vários dicionários/prontuários com hífen e noutros sem. Instalou-se a dúvida. Agradeço o esclarecimento.

 

N.E. O consulente escreve segundo a Norma de 1945.

Resposta:

O termo pôr-do-sol1 aparece registado com hífen já desde meados do século XX, como, por exemplo, na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira ou na 10.ª edição do Grande Dicionário da Língua Portuguesa de António de Morais Silva (1949-1958). E a 8.ª edição deste dicionário (1890) já regista o termo como um substantivo, embora ainda não hifenizado.
Trata-se, pois, de uma realidade assim designada já há muito tempo e com grande frequência, sendo preteridos os seus eventuais sinónimos (ocaso, crepúsculo, anoitecer), certamente por não traduzirem tão bem aquele momento único e duradouro do pôr-do-sol (substantivo). Essa palavra já se tornou um termo autónomo em relação aos seus componentes isolados, tanto que o componente “Sol” é escrito com inicial minúscula.
Quanto à expressão “o nascer do Sol”, ela não é frequentemente utilizada, não só por ser uma realidade menos referida como por se usar preferencialmente o termo “o amanhecer”, não sendo aquela expressão sentida como um substantivo, mas apenas como uma acção: a palavra Sol faz parte da expressão como um substantivo próprio, escrito com inicial maiúscula.

 

N.E. O autor escreve segundo a Norma de 1945.

1. N.E. [01/07/2022] - A palavra passou a escrever-se pôr do sol com o Acordo Ortográfico de 1990.

Pergunta:

Observa-se alguma incorrecção no seguinte texto?
«A primeira razão para a elaboração do presente trabalho foi a esperança de que ele sirva de alguma utilidade e proveito à administração da faixa costeira,...»
Não é redundante «... sirva de alguma utilidade...»?
É correcta a expressão «... esperança de que...»?

Resposta:

Neste texto há, efectivamente, incorrecção na primeira expressão que assinala.
Essa expressão «sirva de alguma utilidade e proveito» é redundante, dada a repetição de sentidos das palavras “servir” e “utilidade”, “utilidade” e “proveito”. Além disso, o verbo “servir” regido da preposição “de” liga-se a certas palavras assumindo significados precisos e não havendo aí lugar para a palavra “utilidade”:
a) com o significado de “fazer o ofício de”, “fazer as vezes de”, “substituir”, “ter a função de”, “desempenhar o papel de”, “ser”: servir de casa, servir de abrigo, servir de capa, servir de colher, servir de tapete, servir de suporte, etc.;
b) com o significado de “causar”: servir de proveito;
c) com o significado de “valer”: servir de garantia.
Assim, essa expressão poderia ser substituída por: «ele tenha alguma utilidade» ou «ele seja útil».
Quando à construção “esperança de que”, ela está correcta. O substantivo “esperança” pode ser regido da preposição “de” (esperança de vida, esperança de servir, esperança de que sirva) ou da preposição “em” (esperança em ti, esperança em Deus, esperança no discurso).

Pergunta:

Sendo uma expressão popular algo vulgarizada, gostava de saber qual a origem da expressão “à lá Gardere”.
Obrigado.

Resposta:

A expressão “à Lagardère” é utilizada quando alguém faz algo com atrevimento, ousadia ou coragem, mas sem medir bem as consequências para si próprio.
Esta expressão refere-se a Lagardère, herói da obra de Paul Féval intitulada Le Bossu (O Corcunda) e publicada em França em 1858.

Pergunta:

A palavra «cocção» aparece dicionarizada com o significado de «acção de cozer» e «digestão dos alimentos no estômago». Qual o verbo que lhe está associado?
Somos uma turma de Electrónica de uma Escola Profissional e aguardamos a V. resposta, pois a nossa professora não nos soube responder...

Resposta:

O verbo associado a cocção é precisamente cozer.
Cocção é um substantivo que provém do latim ‘coctio, coctionis’ (acusativo – ‘coctionem’) e significa acção de fazer cozer, cozimento, coisa cozida, digestão. O verbo latino correspondente é ‘coquere’, que originou, em português, cozer.

Pergunta:

Pretendendo significar «sempre que», qual das seguintes locuções está correcta: «todas as vezes em que (isto ocorre)» ou «todas as vezes que (isto ocorre)»?

Resposta:

A expressão correcta é “todas as vezes que”. “Sempre que”, “de cada vez que” e “todas as vezes que” são expressões feitas, que significam o mesmo.