Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Em parte fiquei esclarecido com as explicações sobre o assunto, que constam do vosso arquivo no sítio Ciberdúvidas.

Resta-me contudo uma outra dúvida dentro do mesmo tema que é a de saber se quando não se faz uso do complemento indirecto é ou não correcto omitir a preposição de.

Exemplo:

"Informo que não foi possível obter o pretendido"

ou

"Informo de que não foi possível obter o pretendido"??

Obrigado.

Resposta:

É correcta a frase «Informo que não foi possível obter o pretendido.»

O verbo informar admite as seguintes regências:

1. Informar alguém de + substantivo: «Ele informou-a dos procedimentos a adoptar.»

2. Informar alguém sobre, acerca de, a respeito de + substantivo: «Ele informou-a sobre (acerca de, a respeito de) as diversas hipóteses.»

3. Informar + oração integrante iniciada por “que” (informar que): «Ela informou que se ia embora.»

4. Informar alguém + oração integrante ou completiva iniciada por “que” (informar que): «Informo-te que me vou embora.»

5. Informar alguém + oração integrante ou completiva iniciada por “se” (informar se): «Informaram-vos se de tarde há aulas?»

6. A construção “informar de que” ocorre por vezes e é considerada correcta por alguns autores, quando estão presentes os dois complementos do verbo: «Informamos V. Ex.ª de que o requerimento...».

Pergunta:

Já está em linha uma resposta a esta pergunta, mas a nossa consultora dr.ª Regina Rocha resolveu também responder-lhe, visto que a conhecia «como uma brincadeira que se faz na aprendizagem da pontuação».

Ciberdúvidas

“Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a factura do alfaiate nada para os pobres”
Colocar pontuação de acordo com os interesses de cada elemento: irmã, sobrinho, alfaiate, pobres.
Obrigado.

Resposta:

É conhecido este exercício como uma brincadeira que se faz na aprendizagem da pontuação.
À irmã interessa:
«Deixo os meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho. Jamais será paga a factura do alfaiate. Nada para os pobres.»
Ao sobrinho interessa:
«Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho! Jamais será paga a factura do alfaiate. Nada para os pobres.»
Ao alfaiate interessa:
«Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a factura do alfaiate! Nada para os pobres.»
Aos pobres interessa:
«Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho, jamais. Será paga a factura do alfaiate? Nada! Para os pobres!»

Pergunta:

Gostaria de saber porque na frase «Não o obedeci porque estava com a razão» o uso do pronome oblíquo está incorreto.

Resposta:

O verbo obedecer hoje admite apenas complemento indirecto (obedecer a alguém), pelo que deverá escrever «não lhe obedeci». Em autores clássicos (por exemplo, Padre António Vieira), este verbo aparece construído com complemento directo, mas essa é uma escrita antiga, que hoje não é considerada correcta.
Os pronomes pessoais que desempenham a função de complemento indirecto são me, te, lhe, nos, vos, lhes; e os que desempenham a de complemento directo são me, te, o, a, nos, vos, os, as.

Pergunta:

Gostaria de saber por que motivo muitos professores consideram incorrecto começar uma resposta por "Quem" (Por exemplo: Quem perguntou por mim? Quem perguntou por ti foi ela.).
Têm a mesma opinião? Está de facto incorrecto?

Resposta:

Muitos professores consideram incorrecta essa forma de responder, dado ser deselegante repetir toda a pergunta na resposta. A não ser que se pretenda um qualquer efeito estilístico com essa repetição, a resposta mais adequada será simplesmente «Foi ela».

Pergunta:

Qual o significado da palavra "Braga"?
Tenho uma vaga reminiscência de que a palavra "braga" deriva da palavra galaico-portuguesa "bragas", que significa "calças", mas não tenho a certeza. É também o nome da minha localidade, que no tempo Romano era denominada de "bracara augusta". Poderiam esclarecer-me?

Resposta:

Braga começou por ser uma povoação dos Galos Célticos Brácaros, tribo galaica localizada na região da actual Braga e seus arredores. Chamavam-lhes brácaros por usarem uma peça de vestuário denominada “braca”, termo este que evoluiu para “bragas” e que queria dizer “calções”. Posteriormente, essa palavra passou a designar uma espécie de ceroulas usadas pelos pescadores, tintureiros e outros.

Brácaros era, pois, o nome da tribo galo-celta que terá fundado a povoação, cuja origem remonta aos tempos pré-históricos. Do nome do povo derivou o nome da povoação, da actual cidade, Braga, e dos seus habitantes, os bracarenses. O início da cidade terá sido uma citânia no alto do monte, circundada por castros que se destinavam à sua protecção. Esta povoação foi conquistada pelos Romanos em 250 a. C., tornando-se o centro de toda a região que incluía o actual Minho e a Galiza, em Espanha. Os Romanos fundaram então ali, na base da serra de Falperra, a cidade a que deram o nome de Bracara.

Dedicaram-na ao imperador Augusto, denominando-a de Bracara Augusta. E a cidade tornou-se a capital de toda essa região, a Galécia. A cidade foi conquistada pelos Suevos em 419, que a tornaram na sua capital política e intelectual, e, mais tarde (em 456), pelos Visigodos. Durante este período, a cidade manteve o nome de Bracara Augusta. Em 715 caiu em poder dos Árabes, tendo sido reconquistada, a partir de 740, pelo rei de Oviedo, D. Afonso, “o Católico”. Em 985 foi de ...