Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Meu nome é Eduardo, sou estagiário de um Juiz em Florianópolis/SC. Estou com um pequeno problema: Um dia um advogado chegou e me perguntou: Quantos processos o Juiz sentenciou esse mês? Daí eu respondi: O Dr. fez uma média de 40 sentenças. O advogado, em seguida, disse que não se fala uma média de e sim aproximadamente 40 sentenças!!
Eu achei um absurdo!!!! Por que a expressão uma média de estaria errada?
Vocês me ajudariam muito se me mandassem alguma fundamentação sobre quem está certo!
Afinal, falar uma média de 40 processos está errado?
Por favor me ajudem nessa dúvida cruel!!!
Obrigado.

Resposta:

A resposta certa é, efectivamente, «Ele deu aproximadamente (ou cerca de) 40 sentenças», e não “Ele decidiu uma média de 40 sentenças”.
Era possível usar a expressão «uma média de» se tivesse sido perguntado algo do género: «No ano que findou, quantas sentenças o juiz deu por mês?» Por mês, ao longo de todo o ano, ele poderia ter dado uma média de 40 sentenças, ou seja, somava-se o número de sentenças de todos os meses, dividia-se pelo número de meses e obtinha-se a média. Para existir uma média é necessário que haja um conjunto de valores, e não apenas um.
Na pergunta em causa, pretende-se saber quantas sentenças o juiz deu num determinado mês. Ora, num determinado mês, ele deu um número preciso de sentenças, e não uma média. A resposta pode ser um número exacto ou um número aproximado, mas não uma média.

Pergunta:

Que: conjunção integrante??


Na frase: «Eu sei que tudo isso é mentira», a palavra que é uma conjunção causal ou integrante?

Resposta:

Nesta frase, que é uma conjunção integrante. A oração «que tudo isto é mentira» desempenha a função de complemento directo da anterior («Eu sei»); é uma oração subordinada completiva ou integrante. Assim, a conjunção que a inicia é subordinativa integrante.


A conjunção que é subordinativa causal quando inicia uma oração em que se exprime a causa, o motivo, de uma principal. Nestes casos, pode ser substituída por «porque», como por exemplo: «Vou chegar tarde, que o trânsito está impossível!»

 

Cf. Inverdades, eufemismos, e outras coisas que parecem evidentes

 

Pergunta:

No provérbio «A homem pobre ninguém roube», o sintagma "a homem pobre" desempenha a função sintáctica de complemento de objecto indirecto, de agente da passiva, de adjunto adverbial, de predicado ou de complemento de objecto directo preposicionado?

Resposta:

Considerando a frase tal e qual como ela está construída, formalmente, o termo «a homem pobre» é o complemento directo do verbo «roubar», complemento directo preposicionado, situação que aparece em diversos provérbios constituídos por frases enfáticas em que o complemento directo é deslocado para o início da oração e salientado com o emprego da preposição “a”. Nesta situação, «roubar» significa «despojar», «privar de algo».
Poderia ser um complemento indirecto se estivesse expresso o objecto do roubo, como por exemplo: «Ninguém roube o pão a homem pobre.» Neste caso, «roubar» significa «apropriar-se de», «tirar», e o complemento directo seria «o pão».
As outras hipóteses apresentadas na pergunta não estão correctas.

Pergunta:

Meu sobrinho de 12 anos fez uma prova onde tinha que retirar do texto 2 encontros consonantais. Ele escolheu as palavras “França” e “prendê-la”. A professora considerou errada a segunda escolha. Ela está correta?
Aguardo ajuda.

Resposta:

Existe encontro consonantal em ambas as palavras, “França” (fr) e “prendê-la” (pr).
Chama-se encontro consonantal ao seguimento imediato de duas consoantes que se lêem juntas. Os encontros consonantais podem pertencer à mesma sílaba ou a sílabas diferentes.
Os primeiros terminam em l ou r (bl, cl, dl, fl, gl, pl, tl; br, cr, dr, fr, gr, pr, tr): bloqueio, claro, enclave, dlim, flamejante, conflito, glória, englobar, planície, templo, atleta; brincar, abrir, crente, lacrau, drama, fruto, grego, congregar, pronto, comprar, trave, entrada. Os encontros consonantais em início de vocábulo também pertencem à mesma sílaba, visto não haver sílaba sem componente vocálica: gnomo, pneu, mnemónica.
Os segundos, os encontros consonantais separáveis, em que cada consoante pertence a uma sílaba diferente, são chamados de encontros disjuntos (por exemplo, bd, bs, ct, dm, dv, ft, pt, tm, tn): abdicar, absoluto, convicto, admitir, advogado, afta, apto, ritmo, étnico.

Pergunta:

Sou tradutor e estou a lidar com o português de Portugal, que é muito diferente do que cá conhecemos no Brasil. Existe um tipo de boneco para crianças, normalmente de plástico insuflável mas com uma base de areia ou outro material pesado, que serve para fixar o seu centro de gravidade, de modo que ao receber golpes o boneco nunca cai e continua sempre de pé.

Em Espanha chamamos a esse boneco tentetieso. Cá no Brasil é joão-bobo.

Tentei descobrir como o chamam em Portugal mas não consegui nenhuma referência fiável. Qual é o termo mais adequado?

Resposta:

Em Portugal, o nome mais comum é sempre-em-pé.

O termo sempre-em-pé já se encontra dicionarizado (caso do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora) como «objecto, frequentemente um brinquedo, que tem uma base arredondada e mais pesada que o resto, o que faz com que se mantenha sempre na vertical, mesmo que seja deitado abaixo».